Jensen Huang, o CEO da Nvidia, avisou que a China irá ultrapassar os EUA na corrida à inteligência artificial (IA) devido aos baixos custos energéticos e a regulações mais flexíveis.

O líder da empresa mais valiosa da história, actualmente avaliada em 5 biliões de dólares (cerca de 4,34 biliões de euros), disse “convictamente”, em entrevista à revista Financial Times, na quarta-feira, que “a China vai ganhar a corrida à inteligência artificial”.

Ainda na semana passada, Donald Trump e Xi Jiping, os líderes dos dois países, encontraram-se na Coreia do Sul para discutir uma pausa na guerra comercial entre os EUA e a China. Após a reunião, a Administração Trump anunciou que não permitirá a venda dos semicondutores da Nvidia à China ou a outros países. Os Blackwell, os chips mais avançados que a empresa fabrica, estão “reservados para empresas norte-americanas apenas”, disse o Presidente norte-americano.

“Queremos que o mundo seja construído com base na tecnologia americana. Mas também precisamos de estar na China para conquistar os seus programadores. Uma política que faz com que os Estados Unidos percam metade dos programadores de IA do mundo não é benéfica a longo prazo, prejudica-nos mais”, acrescentou Jensen Huang.

O CEO da gigante tecnológica queixou-se do “cinismo” do Ocidente, referindo-se à falta de optimismo nos EUA e no Reino Unido na corrida à inteligência artificial, ainda à conversa com a Financial Times, à margem da Cimeira sobre o Futuro da IA, organizada pela revista britânica.

Huang mencionou as “50 novas regulações” que podem resultar das regras de IA destacadas pelos estados norte-americanos, contrastando esta abordagem com os subsídios energéticos na China, que tornaram mais acessíveis para as empresas de tecnologia do país encontrarem alternativas aos chips de IA da Nvidia.

A vantagem da China

A Financial Times relatou na última semana que Pequim aumentou significativamente os subsídios para as gigantes de tecnologia como a ByteDance e a AliBaba, baixando para quase metade os custos energéticos dos maiores centros de dados do país.

Os subsídios surgiram como resposta às várias queixas por parte destas empresas, que após a proibição imposta pelo governo chinês à importação de chips da Nvidia, no passado mês de Setembro, viram os preços subir devido à menor eficiência energética dos processadores produzidos por empresas como a Huawei e a Cambricon. Caso estas empresas usem chips produzidos no mercado chinês, poderão cortar os custos de energia em quase 50%.

A Huawei, fabricante líder de processadores da China, tem procurado superar o desempenho computacional mais fraco do seu chip Ascend 910C, combinando-os em clusters maiores, o que aumenta os custos de electricidade.

No entanto, a China, que lidera o mercado global de energias limpas, tem visto os preços de energia baixarem significativamente – o preço da electricidade para a indústria alemã foi aproximadamente o dobro do preço praticado na China em 2024, segundo um relatório da Agência Federal Alemã.

“A rede eléctrica da China é mais centralizada e capaz de fornecer electricidade mais barata e ecológica do que os EUA, sem risco de escassez no curto prazo”, escreve o Financial Times.

Jensen Huang não é a primeira voz influente no mundo da IA a alertar para a possibilidade de a China ultrapassar os EUA. Em 2025, Eric Schmidt, o antigo CEO da Google, invocou o sucesso da DeepSeek, um chatbot de IA chinês semelhante ao ChatGPT da OpenAI, pedindo aos líderes da tecnologia nos EUA que “não subestimassem a competição chinesa”.