O antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva declarou esta sexta-feira apoio a Luís Marques Mendes nas eleições presidenciais de 18 de Janeiro de 2026. Num artigo publicado no Observador, o ex-chefe de Estado justifica a escolha com a “experiência política” e o “bom senso” do antigo ministro, ao mesmo tempo que critica de forma directa o almirante Henrique Gouveia e Melo, que considera “sem as competências e as qualificações” necessárias para o cargo.
“Quero dizer aos portugueses que votarei em Luís Marques Mendes”, anunciou Cavaco Silva, que descreve o social-democrata como alguém que “tem experiência política, conhece o funcionamento e as especificidades das instituições da nossa democracia, da governação do país e da política externa. E é uma pessoa de bom senso, qualidade muito importante para um Presidente da República.”
No texto, o antigo Presidente centra apenas a sua análise em Marques Mendes e em Gouveia e Melo, deixando de fora os restantes candidatos. E não poupa nas críticas a Gouveia e Melo, afirmando que “as atitudes, afirmações e posições assumidas depois de desempenhar a tarefa de coordenador da distribuição das vacinas, em particular durante a sua campanha para a eleição presidencial, foram esclarecedoras.”
O ex-chefe de Estado considera que, apesar de Gouveia e Melo poder ter “muitos predicados”, “não possui as competências e qualificações para exercer as funções de Presidente da República no quadro internacional incerto e complexo que se perspectiva para os próximos cinco anos”.
“Nestes tempos de incerteza e ameaças, é fundamental que o futuro Presidente da República conheça bem o funcionamento das instituições do nosso sistema político, construa pontes e facilite entendimentos entre os partidos políticos, as forças económicas e sociais, o Governo e a oposição e seja capaz de actuar como reserva de último recurso se o país for atingido por uma crise grave”, escreve o antigo chefe de Estado.
Cavaco Silva reconhece o trabalho do almirante durante a pandemia, mas desvaloriza o feito de Gouveia e Melo e lembra que o candidato não esteve sozinho nessa tarefa. “Sei que fez um bom trabalho como coordenador da distribuição das vacinas covid-19 durante oito meses, tal como o fez o oficial das Forças Armadas que lhe sucedeu”, escreve, referindo-se a Carlos Penha Gonçalves.
“Prestei serviço militar durante três anos e meio e sei que existem muitos oficiais das nossas Forças Armadas com conhecimentos de logística que seriam capazes de desempenhar igualmente bem a tarefa das vacinas. Como é óbvio, não é esse tipo de conhecimento que qualifica um qualquer português para exercer as funções de Presidente da República.”
Além disso, Cavaco Silva alerta para as consequências de uma eventual eleição de um Presidente “sem as competências e qualificações para lidar com as situações difíceis, incertas e complexas com que o país pode ser confrontado e para defender os superiores interesses nacionais”.
O apoio agora declarado surge após meses de sinais públicos. Em Setembro, Cavaco Silva já tinha deixado pistas num artigo publicado no Expresso, onde defendia que o Presidente deve conhecer “o funcionamento das instituições da nossa democracia” e ter “experiência sobre as especificidades da vida partidária e das tarefas da governação”.
A declaração de apoio de Cavaco Silva a Luís Marques Mendes não surpreende. O candidato social-democrata foi ministro de Cavaco e mantém com o antigo Presidente uma relação próxima. Ambos participaram nas comemorações dos 40 anos do primeiro Governo de Cavaco, e Mendes chegou a apresentar um dos livros do ex-primeiro-ministro, em 2020. Cavaco admitiu mesmo que costumava acompanhar os comentários televisivos do seu antigo ministro aos domingos.