Não se pode discutir com as leis da física, disse o secretário-geral das Nações Unidas, na abertura da cimeira de líderes que antecede a Conferência do Clima das Nações Unidas, no Brasil (COP30). “Mas podemos escolher entre liderar ou sermos levados à ruína”, afirmou António Guterres, apelando à acção contra as alterações climáticas.
As leis da física fazem com que o dióxido de carbono lançado para a atmosfera potencie o efeito de estufa, retendo o calor do Sol aqui na Terra, mas o líder das Nações Unidas reforça: está nas nossas mãos limitar as emissões dos gases com efeito de estufa e reduzir o aquecimento global.
“Demasiadas empresas estão a ter lucros recorde com a devastação climática, e milhares de milhões de euros são gostos em lobbies, da indústria petrolífera, que enganam os cidadãos e obstruem o progresso”, afirmou Guterres, perante os mais de 60 líderes mundiais que se reuniram esta quinta e sexta-feira em Belém, na Amazónia brasileira.
“Muitos líderes continuam cativos destes interesses instalados”, continuou, frisando que governos de todo o mundo gastam um bilião (milhão de milhões) de dólares todos os anos em subsídios para os combustíveis fósseis.
A queima de gás, petróleo e carvão, para produzir energia, movimentar automóveis ou até produzir plásticos, é a principal fonte de emissão dos gases de estufa que provocam o aquecimento global e as alterações climáticas.
“Caminho justo”, diz Lula
O Presidente Lula da Silva, anfitrião da COP30 no Brasil, avisou que “forças extremistas” estão a espalhar mentiras sobre as alterações climáticas para obter ganhos políticos. “Num cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas imediatos preponderam sobre o bem comum de longo prazo”, declarou.
Já o Presidente chileno, Gabriel Boric, mencionou pelo nome Donald Trump, dizendo que o Presidente dos EUA tinha mentido à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro, quando afirmou que as alterações climáticas são “a maior vigarice do mundo”.
Os Yanomai, povos indígenas da Amazónia, acreditam que cabe aos seres humanos sustentar o céu, para que não caia sobre a Terra. Espero que esta cimeira contribua para empurrar o céu para cima e ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje
Lula da Silva
Houve um apelo a que não se perca mais tempo. “Agora é o tempo da implementação”, afirmou Guterres, repetindo três vezes esta palavra, que é o lema da COP30. “É uma falha moral e uma negligência mortal se não limitarmos a subida da temperatura global”, declarou, num discurso que apelava à indignação.
“Precisamos de um mapa para planear um caminho justo para acabar com a desflorestação, ultrapassar os combustíveis fósseis e mobilizar os recursos para atingir estes objectivos”, afirmou Lula, num apelo aos líderes para uma acção comum contra o aquecimento global. Ainda que o Brasil não tenha planos para parar a exploração de petróleo, até na foz do Amazonas.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, estão entre os líderes presentes nesta cimeira.
Lula despediu-se recordando uma crença dos Yanomami, povos indígenas que vivem na Amazónia. “Acreditam que cabe aos seres humanos sustentar o céu, para que não caia sobre a Terra”, contou. “Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade perante o planeta. Mas também reconhece que o poder de expandir horizontes está nas nossas mãos”, frisou o Presidente brasileiro. “Espero que esta cimeira contribua para empurrar o céu para cima e ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje”.