Na vila ribatejana, a Comissão de Festas decidiu antecipar o fogo de artifício para escapar à entrada em vigor da situação de alerta. Só que a manobra não caiu bem nas redes sociais. “Javardos”, “inconscientes” e “devia pegar fogo à Comissão de Festas” foram alguns dos comentários. A publicação acabou por ser silenciada

A decisão do Governo era clara, com hora marcada: a partir da meia-noite de domingo, estaria em vigor uma situação de alerta em todo o território continental, face à aproximação de uma “semana muito difícil” em matéria de incêndios. Uma das medidas: proibição total de fogo de artifício, independentemente da forma de combustão. 

A ministra Maria Lúcia Amaral explicou porquê: previsões de calor extremo, humidade residual ou vegetação seca. Portugal em lume brando, portanto. 

Só que em Marinhais, freguesia de Salvaterra de Magos, no distrito de Santarém, alguém teve uma ideia: no dia em que a ministra anunciava a declaração de alerta, a Comissão de Festas de Marinhais escrevia no Facebook que o espetáculo piromusical inicialmente agendado para as 00:30 de domingo — meia hora depois da entrada em vigor da proibição — afinal teria lugar às 23:30.

“Devido ao alerta vermelho emitido pelo Governo a partir da meia-noite, a sessão de fogo de artifício será antecipada para as 23:30 de dia 2 de agosto”, lia-se na publicação.

É a meia hora mais discutida do fim de semana. Nas caixas de comentários, os internautas, e muito deles até se apresentam como moradores de Marinhais ou Salvaterra, chamaram-lhe (à Comissão de Festas) o que lhes veio à cabeça: “Noção procura-se”, “uma vergonha”, “chico espertismo à portuguesa”. E também o que não costuma sair nos jornais: “podiam enfiar os foguetes nos orifícios anais”, “devia pegar fogo à Comissão de Festas e não aparecer lá ninguém a ajudar”, “atrasados mentais”.

A conta oficial das festas ainda tentou resistir, mas acabou por limitar os comentários no Facebook. Os mais de 300 que ficaram por lá continuam a fazer fumo.

Segundo a legislação em vigor durante a situação de alerta, ficam suspensas todas as autorizações para o uso de fogo de artifício, independentemente de quando foram emitidas. A intenção da medida, segundo a ministra, é mitigar o risco de deflagração de fogos rurais — basta uma faísca, uma brisa e um pinhal, como o país já sabe. 

A antecipação do espetáculo de pirotecnia permitiu à Comissão de Festas cumprir a lei à risca. Mas a legalidade da manobra não apaziguou a ira de quem é de fora ou vive na vila e viu nos céus de sábado à noite em Marinhais mais do que luzes coloridas. Para muitos, o gesto simbolizou um “desrespeito”, um “facilitismo”, uma “falta de civismo”.

“Havia de arder tudo e depois chamavam quem?”, escreveu uma utilizadora. Outro atirou: “Quando o país arde, é tudo a chorar nos noticiários. Mas agora é festa, toca a lançar foguetes.”

A situação de alerta prolonga-se até quinta-feira, com restrições que incluem a proibição de queimadas, de trabalhos agrícolas com maquinaria pesada e de circulação em espaços florestais considerados de risco.