Os Estados Unidos estão habituados a lidar com paralisações, que só terminam quando uma das partes cede nas suas exigências. Até esta terça-feira, a pressão era imposta pelos republicanos, uma vez que controlam a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Representantes, e os democratas pareciam estar prestes a ceder. Mas, para muitos, as eleições pintaram um novo contexto, em que os democratas mostraram ainda ter poder para ditar as regras da política norte-americana. “Os resultados vão criar mais pressão para pôr fim ao frente-a-frente porque a eleição produziu um claro vencedor e uma narrativa sobre porque é que isto aconteceu“, argumenta ao Observador Berwood Yostdiretor do centro de pesquisa da Franklin & Marshall College, na Pensilvânia.

Os jornalistas esperavam pelo início da conferência de imprensa de Chuck Schumer desta quarta-feira, quando, no fundo da sala de imprensa do Capitólio, se ouve uma questão: “Vai juntar-se à conferência de imprensa? Quer dizer-nos o que pensa sobre a noite passada?”. A questão era colocada a Bernie Sanders, que assistia à conferência na última fila, e o senador independente do Vermont não se fez rogado e subiu ao púlpito, para alertar que colocar fim à paralisação nos termos atuais seria “uma terrível decisão”.

“Por todo o país, as pessoas estão a dizer ‘Por favor, Democratas, não foram fortes no passado, permaneçam firmes agora‘. Os Democratas estão a vencer por que estão do lado da classe trabalhadora”, argumentou. A crítica ao histórico democrata é frequente, baseada na visão de que o partido prefere facilitar o bom funcionamento das instituições a defender algumas das suas políticas. Desta vez, contudo, o partido desafiou o “estereótipo [e] e não cedeu imediatamente, mostrando aos apoiantes que tem espinha dorsal”, escreveu o repórter da CNN, Stephen Collinson, numa análise às primeiras duas semanas de paralisação.

Passadas outras duas semanas, Sanders procura manter esta mesma verticalidade. “Alguns de vocês podem ter ouvido a expressão ‘Quando lutamos, ganhamos”. Já ouviram isso?”, questionou no púlpito de Schumer, fazendo eco do lema de campanha de Kamala Harris no ano passado. “Ora, quando cedem, perdem“, rematou, antes de o líder democrata no Senado ter entrado na sala e ter tomado as rédeas da conferência, em que também ele não se mostrou tentado a ceder, antes encorajado pelos bons resultados.