Takeshi Inomata

O sítio arqueológico terá sido construído de forma voluntária e motivado por crenças espirituais comuns, sem sinais de hierarquia ou coação.

Os arqueólogos descobriram que uma colossal estrutura maia, construída há 3000 anos, foi concebida como um vasto mapa do cosmos e criada sem governantes ou elites sociais. O sítio arqueológico, conhecido como Aguada Fénix, fica no estado de Tabasco, no México, perto do Golfo do México, e revelou-se muito maior e mais complexo do que se acreditava anteriormente. A descoberta foi relatada num estudo publicado este mês na Science Advances.

Novas pesquisas lideradas por Takeshi Inomata mostram que Aguada Fénix se estende por aproximadamente 9 por 7,5 quilómetros, disposta no formato de uma enorme cruz simbolizando o universo: um “cosmograma”. A descoberta desafia antigas suposições de que a arquitetura monumental nas sociedades antigas exigia autoridade centralizada ou trabalho forçado, refere o Science Alert.

Surpreendentemente, os arqueólogos não encontraram evidências de reis, residências de elite ou divisões de classe no local. Em vez disso, Inomata e a sua equipa argumentam que a construção foi provavelmente motivada por crenças espirituais partilhadas e cerimónias coletivas, e não por hierarquia social. “A construção de um cosmograma que representa a ordem do Universo e do tempo provavelmente motivou muitas pessoas a participar sem serem coagidas”, escreveram os investigadores.

No núcleo do monumento encontra-se um planalto artificial contendo duas crateras em forma de cruz, cada uma alinhada com longos corredores e passeios que se estendem para o exterior. Estas estruturas podem ter servido como rotas de procissão ritual. Escavações no núcleo central também revelaram impressionantes depósitos de pigmentos dispostos de acordo com os pontos cardeais. Este é o exemplo mais antigo conhecido de simbolismo direcional das cores na Mesoamérica, um conceito que mais tarde se tornaria central para a cosmologia maia.

Outras oferendas, incluindo conchas e esculturas de jade representando crocodilos, pássaros e uma mulher a dar à luz, foram dispostas no mesmo padrão de cruz, reforçando o tema cosmológico. Os canais e barragens inacabados do sítio arqueológico sugerem que os construtores acabaram por atingir limites práticos ou organizacionais.

As descobertas de Aguada Fénix retratam uma sociedade igualitária capaz de uma extraordinária coordenação e criatividade. “Não precisamos de grandes desigualdades sociais para alcançar coisas importantes”, observa Inomata.


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