Vencedor do Prémio Nobel da Medicina em 1962, James Watson era curador da fundação Champalimaud. Em comunicado, a presidente da fundação, Leonor Beleza, assinala que as suas descobertas “foram determinantes” para o rumo da ciência.
“A Fundação Champalimaud estará para sempre em dívida com James Watson e ele é parte do ADN da Fundação”, vincou.
James Watson nasceu a 6 de abril de 1928 em Chicago, nos Estados Unidos. Estudou ornitologia e biologia e acabou por se especializar no trabalho sobre o ADN (ácido desoxirribonucleico).
À época, a comunidade científica já sabia que o ADN era portador da informação genética dos seres vivos, sendo composto por quatro tipos de moléculas menores, os nucleotídeos (A, C, T e G). Mas desconhecia-se por completo o seu formato.
Em colaboração com o cientista britânico Francis Crick, James Watson publicou em 1953 um artigo na prestigiada revista científica Nature. Nele, os dois cientistas descrevem pela primeira vez a estrutura de dupla hélice do ADN.
O conhecimento desta estrutura possibilitou a compreensão de como a informação genética é transmitida. “Acreditamos que o ADN seja um código. Por outras palavras, acreditamos ter encontrado o mecanismo básico de replicação que dá origem à vida”, descreveu Francis Crick, cientista que morreu em 2004.
À época da publicação do artigo, Crick tinha 36 anos e James Watson tinha apenas 25. Menos de dez anos depois, em 1962, os dois cientistas são laureados com o Prémio Nobel da Medicina, ao lado do biofísio neozelandês Maurice Wilkins.
Nas décadas seguintes lecionou na Universidade de Harvard e assumiu a direção do laboratório Cold Spring Harbor.
Em 1990 liderou o Projeto Genoma Humano mas retirou-se dois anos depois, opondo-se à ideia de registar patentes nessa área.
Declarações polémicas e uma medalha Nobel leiloada
Ao longo da vida, James Watson foi protagonista de vários momentos controversos, desde logo na década de 1950, quando fez comentários depreciativos sobre a cientista Rosalind Franklin, outra pioneira no estudo do ADN tão relevante quanto Watson, Crick ou Maurice Wilkins.
Em 1997, James Watson afirmou que as mulheres deveriam ter direito ao aborto se os exames em sua posse pudessem determinar que o filho seria homossexual.
Dez anos depois, em 2007, em entrevista ao Sunday Times, afirmou que os africanos não eram tão inteligentes, declarações pelas quais viria a pedir desculpa, admitindo que não tinha “qualquer base científica” para o defender.
O laboratório Cold Spring Harbor suspendeu James Watson e forçou o cientísta a renunciar das suas funções quando tinha praticamente 80 anos, tendo mais tarde revogado os seus títulos honorários.
Em 2014, ao sentir-se ostracizado pela comunidade científica, Watson leiloou a medalha de Prémio Nobel para doar o valor arrecadado às universidades com as quais colaborou.
A medalha, adquirida por 4,7 milhões de dólares por um bilionário russo, viria a ser devolvida ao cientista norte-americana.
com agências