A Procuradoria-Geral de Istambul emitiu esta sexta-feira mandados de detenção contra cerca de 40 pessoas, incluindo o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por alegados crimes contra a humanidade e genocídio, no âmbito da ofensiva israelita na Faixa de Gaza, que já causou mais de 68.800 mortos em pouco mais de dois anos.

Para além de Netanyahu, o órgão judicial turco pediu também a detenção de vários membros do seu Governo, entre eles o ministro da Defesa, Israel Katz, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir. Foram igualmente visados o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, e o comandante da Marinha israelita, David Saar Salama.

“Com base nas provas recolhidas, determinou-se que os seguintes responsáveis israelitas são criminalmente responsáveis pelos crimes sistemáticos de lesa-humanidade e genocídio cometidos em Gaza e pelas acções empreendidas contra a flotilha internacional Global Sumud. (…) A investigação prossegue de forma exaustiva e minuciosa”, lê-se num comunicado emitido pela Procuradoria.

O texto faz referência às vítimas civis e à destruição provocada pela ofensiva israelita, destacando ataques que tiveram grande impacto, como o bombardeamento do hospital baptista Al-Ahli, que provocou a morte de 500 pessoas, ou o assassinato da menina de seis anos Hind Rajab, atingida com centenas de disparos por soldados israelitas.

“Estes actos têm-se intensificado diariamente desde 7 de Outubro de 2023. (…) Além disso, Gaza tem estado sob bloqueio, impedindo as vítimas de aceder à ajuda humanitária. Esta situação gerou ampla atenção internacional”, acrescenta o comunicado da Procuradoria de Istambul.

No mesmo contexto, as autoridades turcas recordaram que activistas da Global Sumud Flotilla foram atacados por Israel em águas internacionais enquanto tentavam chegar por mar a Gaza para entregar ajuda humanitária, tendo depois sido detidos e repatriados para os seus países de origem. Face a esses acontecimentos, foi aberta uma investigação por crimes de tortura, pilhagem, destruição de propriedade, privação de liberdade, sequestro e apreensão de meios de transporte.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, rejeitou “com firmeza e desprezo a mais recente manobra propagandística do tirano”, referindo-se ao Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, segundo uma publicação partilhada na rede social X.

Saar recordou que esta mesma procuradoria foi responsável por “orquestrar” a detenção do presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, “simplesmente por se ter atrevido a competir com o chefe de Estado”. “Na Turquia de Erdoğan, o poder judicial há muito que se transformou numa ferramenta para silenciar rivais políticos e deter jornalistas, juízes e autarcas”, criticou o ministro israelita.

Por seu lado, o Hamas saudou a emissão dos mandados de detenção contra “o chefe do governo da ocupação, o criminoso de guerra Netanyahu”, e vários membros do seu gabinete.

“Esta medida louvável reafirma a posição do povo turco, comprometido com os valores da justiça e da humanidade, e com a fraternidade que o une ao nosso povo oprimido, que tem sofrido — e continua a sofrer — a mais atroz guerra de extermínio da história moderna, às mãos dos criminosos de guerra que lideram a ocupação fascista”, lê-se num comunicado citado pelo jornal Filastín, próximo do Hamás.