A doença de Alzheimer afeta milhões de pessoas em todo o mundo e continua a ser um dos maiores desafios da ciência.
O que é a TDP-43 e porque é importante estudar esta proteína em particular
Conhecida por estar associada a outras patologias neurodegenerativas, a proteína TDP-43 pode desempenhar um papel relevante na disfunção sináptica, um dos mecanismos centrais da doença de Alzheimer.
De acordo com a investigadora Ana Rita Quadros, que encabeça este novo projeto, a TDP-43 é uma proteína presente no cérebro e “que funciona mal na doença esclerose lateral amiotrófica (ELA) e na demência frontotemporal”.

Estudos apontam que esta proteína está presente em 20 a 50 por cento dos pacientes com Alzheimer, associada a maior probabilidade de declínio cognitivo e a uma atrofia cerebral mais rápida.
A TDP-43 localiza-se
principalmente no núcleo das células saudáveis e que se liga ao RNA do ADN. Esta proteína dá a informação às
células, regulando o código que ajuda a definir o que é que vai
ser a célula e gerindo um conjunto de funções importantes.
A investigadora da Universidade de Coimbra explica à RTP Notícias que há já algum tempo que existem evidências de agregados desta proteína, embora as investigações as tenham ignorado.
Agora, este trabalho pós-doutoramento de Ana Rita Quadros vem mostrar que também há perda de função da proteína. Ou seja, não são apenas os agregados – que existem dentro das células – que podem ser tóxicos, é também o facto de a TDP-43 perder a sua função normal. E “isso também acontece nos doentes de Alzheimer”, sublinha.

Imagem ilustrativa 3D da proteína TDP-43 (Fonte: proteopedia.org)
Trata-se de um elemento científico “muito interessante”, porque antes de se formarem os agregados, geridos pela TDP-43, a perda de função desta proteína já é registada. Ou seja, a destruturação das células cerebrais nos neurónios pode, na verdade, ser consequência da falência com origem na TDP-43.
“Então, esta perda de função normal da proteína é uma coisa que é muito recente e que ninguém está a olhar, e agora quero estudar os mecanismos”, diz a investigadora portuguesa.
O TDP-43 também transita ativamente entre o núcleo e o citoplasma. Quando mal localizada no citoplasma, pode levar a proteinopatias como a esclerose lateral amiotrófica (ELA) e a demência frontotemporal (DFT). Nestas patologias, ela forma agregados nocivos que contribuem para a neurodegeneração ( de Boer, 2020 ; Jo, 2020 ; Chhangani, 2021 ; Scialo, 2025 ).O projeto SynTDP. Objetivos e métodos
“As sinapses são a maneira como os neurónios falam uns com os outros”, explica Ana Rita Quadros. Daí a origem do nome deste projeto científico (Decoding the contribution of TDP-43 for synaptic failure in Alzheimer’s Disease) que estuda como funciona a perda de função da proteína e como esta afeta os alvos sinápticos de RNA, contribuindo para défices cognitivos e demência.
“A minha hipótese neste projeto é que o TDP-43 regula muitas proteínas, regula muitas coisas na célula, mas muitos desses fenómenos que a proteina regula convergem na função sináptica. E esta função é uma das primeiras coisas que falha na doença de Alzheimer”.

Para isso, a equipa vai analisar tecidos post-mortem, células estaminais pluripotentes induzidas e modelos animais, cruzando dados sobre alterações de RNA e impacto na função sináptica.

O projeto é financiado pela Comissão Europeia através das Ações Marie Skłodowska-Curie, com um investimento superior a 207 mil euros. Conta ainda com parcerias internacionais de referência, como o Massachusetts General Hospital e a Harvard Medical School.Impacto esperado. Esperança para milhões
Se as hipóteses forem confirmadas, esta investigação poderá abrir caminho à identificação de novos alvos terapêuticos, permitindo desenvolver estratégias para restaurar a função neuronal e travar a progressão da doença.

Mais do que um avanço científico, este projeto pode representar esperança para milhões de pessoas que vivem com Alzheimer e para as famílias que enfrentam diariamente os efeitos devastadores da doença.
Ana Rita Quadros refere de forma emocionada que trabalhar com pessoas com doenças de demência ou Alzeimer “é uma fase difícil”.
“É uma coisa que envolve muita dedicação. E eu espero, espero que nós consigamos como sociedade, ajudar e conseguir encontrar cada vez mais formas de integrar essas pessoas e ajudar os cuidadores. Porque acho que é uma coisa que vai acontecer cada vez mais. (…) Portanto, gostava de dar uma mensagem de esperança.(…) Eu sei, como cientista, que isto não vai ajudar as pessoas que tem Alzheimer. Agora, neste momento, não é? Acho que é uma coisa mais a longo prazo e que, portanto, acho que há esperança para o futuro”, conclui.

Para o desenvolvimento do projeto, Ana Rita Quadros vai contar também com o apoio do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard.