Tudo começou quando William H. Mumler estava revelando um autorretrato em seu estúdio em Boston. O ano era 1862, e o gravador de joias e fotógrafo amador se surpreendeu quando uma imagem fantasmagórica começou a surgir. 

Na imagem, logo abaixo dele, apareceu uma jovem mulher com um vestido esvoaçante. Os traços borrados da pessoa traziam ares fantasmagóricos para a foto. 

Mumler mostrou a foto para um amigo e comentou que a mulher da foto parecia sua prima que havia morrido. Tudo em tom de brincadeira. Mas logo a foto começou a circular pela sociedade de Boston. 

Até mesmo a comunidade espiritualista local soube do registro e a notícia passou a se espalhar por meio de publicações religiosas alternativas: espíritos finalmente haviam sido capturados em fotografia.

++ Como uma aposta em cavalos ajudou no desenvolvimento do cinema?

Foto de fantasma?

Mas a verdade não era nada disso: a mulher que apareceu na foto, muito provavelmente, era Hannah Frances Green — que trabalhava nas proximidades como fotógrafa e médium espírita.

Conforme explica o National Geographic, o fotógrafo amador não havia limpado de forma correta a placa fotográfica antes de usá-la novamente. Assim, ficou o resquício da foto anterior, tirada de Green. 

Mesmo sabendo disso, Mumler percebeu que poderia ganhar dinheiro ao tirar foto de pessoas com “fantasmas”. Naquela época, cada registo custava dez dólares (o que hoje seria cerca de 300 dólares, ou mais de R$1,600).

O contexto da época

Quando o registro feito por Mumler aconteceu, o mundo passava por transformações. A primeira delas foi justamente o advento da fotografia. A primeira foto da história havia sido tirada por volta de 1827, de um telhado francês. 

Cerca de dez anos depois, surgiram as primeiras fotos de seres humanos. Todo mundo havia ficado fascinado com a tecnologia que era capaz de mostras realidades que eram distantes — como desde a natureza até o cenário de outros países.

Paralelo a isso, descobertas científicas evidenciaram que o olho humano não era capaz de ver tudo; como é o exemplo do raio-x. 

Além disso, no final da década de 1840, três irmãs religiosas geraram uma enorme repercussão no interior de Nova York ao afirmarem que eram capazes de se comunicarem com espíritos através de estranhos ruídos de batidas vindos das paredes de sua casa de fazenda.

Por fim, o telégrafo chegou para cimentar a comunicação de longa distância. Nada parecia um absurdo, conforme escreve Peter Manseau em seu livro ‘Os Aparicionistas’, relembrando que muitos acreditavam que pudessem estender essa comunicação para um plano completamente diferente: o mundo espiritual. Um dos pilares do espiritismo. 

A Guerra Civil e a fraude

Mas talvez o grande acontecimento que mudou a população norte-americana foi a Guerra Civil, que deixou todos com o sentimento de medo, tristeza e luto.

Quando William H. Mumler passou a vender suas fotografias de fantasmas, o país já vivia o conflito há um ano. E cada vez mais as famílias buscavam formas de homenagear seus entes queridos: como retrato de seus filhos antes de irem para o campo de batalha. 

Mumler também passou a aprimorar a técnica, para criar a ilusão de espíritos visitantes.

Boston passou a viver um interesse cada vez maior pela fotografia espírita. Foi então que um descuido aconteceu. 

Tudo começou após um cliente de Mumler ver sua própria esposa sendo transformada em um “espírito” em outra foto. Acontece que a mulher estava bem viva. 

Assim, o fotógrafo teve que se mudar para Nova York, onde abriu um novo estúdio na Broadway. Ele durou apenas um ano antes que um investigador de fraudes, fingindo ser um cliente, o levasse a julgamento.

O julgamento

William H. Mumler foi levado a julgamento pelo jornal The World, que havia feito a denúncia apoiado por um grupo de cientistas e fotógrafos. O veículo queria que a população não fosse enganada por fraudes. 

Mas o tribunal se tornou uma disputa muito além: a fotografia também se tornou alvo da disputa entre ciência x religião. 

Apesar dos acusadores tentarem mostrar como funcionava a manipulação, eles não conseguiram provar concretamente a farsa e tampouco refutar a existência do mundo espiritual. Mumler acabou absolvido. 

A decisão foi encabeçada por um juiz que chegou a admitir que, vez ou outra, via espíritos no tribunal. A absolvição serviu para que muitos passassem a validar a veracidade da fotografia espírita.


Fabio Previdelli

Jornalista de formação, curioso de nascença, escrevo desde eventos históricos até personagens únicos e inspiradores. Entusiasta por entender a sociedade através do esporte. Vez ou outra você também pode me achar no impresso!