Se brilha, pode ser ouro. E, se é ouro, pode dar-lhe bons retornos na hora de investir. Esta matéria-prima está a agitar os mercados. Explicamos-lhe tudo neste artigo, em quatro perguntas-chave
Têm sido tempos de muito burburinho sobre o ouro. O metal precioso, encarado como um ativo de refúgio, ultrapassou o patamar dos 4.000 dólares por onça no início de outubro. Desde o início do ano, a valorização é de dois dígitos, mesmo com as ligeiras correções que já foram tendo lugar.
Aí em casa deve estar a pensar: então, devia estar a investir em ouro? Já lhe vamos dar resposta.
1. Por que está o ouro a valorizar tanto?
Antes, precisamos de saber por que está o ouro a reagir desta forma. “O investimento em ouro tem sido atrativo ao longo da história pela sua capacidade de manter o poder de compra de quem o detém. É aquilo a que se chama uma boa reserva de valor”, explica Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros
Há contextos – como o atual – em que o ouro se revela ainda mais atrativo. A incerteza geopolítica com a tensão no Médio Oriente e na Ucrânia, a indefinição na guerra de tarifas criada por Donald Trump e o “shut down” do governo norte-americano são três dos fatores a ter em conta.
Mas há mais, junta o analista de mercados Ricardo Evangelista, da ActivTrades: “temos outro ângulo, da Reserva Federal norte-americana, com as expectativas de que comece a cortar nas taxas de juro, o que enfraquece o dólar. Com o dólar a enfraquecer, o preço do ouro sobe”.
Depois, há outro perfil a agitar a negociação do ouro. “Os bancos centrais têm sido grandes compradores desde 2020, aumentando as reservas para reduzir a dependência do dólar e proteger-se de riscos geopolíticos”, junta Adelino Gonçalves, analista financeiro da Deco Proteste Investe.
Para fechar o quadro, importa referir que a procura por joalharia voltou a crescer em países como a Índia, a China ou os Emirados Árabes Unidos, num momento em que a oferta mundial quase não avança. Resultado: escassez, subida dos preços.
2. Esta tendência é para manter?
A expectativa dos analistas é de que, mesmo com ligeiras correções, o ouro vai continuar a valorizar.
“Em 2025, o preço do ouro, em euros, já subiu mais de 40%. Se compararmos com preços de 2022, para não irmos mais longe, o ouro já duplicou”, argumenta Filipe Garcia.
Ricardo Evangelista completa: “Acho que ainda não atingimos o pico. Não acho impossível que, no médio-longo prazo, o ouro atinja os cinco mil dólares. Estamos a falar num período de seis meses a um ano”, antecipa.
Até porque, como reitera o analista de mercados Henrique Tomé, da XTB, as reduções nas taxas de juro e a desvalorização do dólar, “continuam a sustentar os ganhos”. Por sua vez, a incerteza internacional apresenta-se como um “fator adicional que poderá impulsionar a tendência de valorização ao longo dos próximos meses”.
“É sempre difícil prever qual será o limite máximo antes de ocorrerem correções mais prolongadas”, junta.
3. Quero investir. Vou à ourivesaria?
Se não costuma investir, talvez ir a uma ourivesaria ou a uma casa de penhores para comprar ou vender ouro lhe pareça o caminho mais fácil. E é, provavelmente, o caminho mais errado.
“Quando compra ouro na ourivesaria, compra sempre a um preço muito superior ao de mercado. Se comprar um cordão ou anel, há sempre o preço da manufatura. É verdade que uns brincos de ouro valem mais hoje do que há um ano. Mas, se quiser investir em ouro, não vá comprar brincos”, aconselha Ricardo Evangelista.
Conselho na mesma direção dá Adelino Gonçalves da Deco Proteste Investe: “se quer ter o ouro ‘à mão’ e como investimento deve optar, preferencialmente, pela compra de ouro físico em barras ou lingotes. Não compre peças de ouro. As barras devem ter entre 999 e 1000 milésimas de ouro fino”.
4. Que alternativas tenho?
Se quiser investir em ouro, os especialistas ouvidos pela CNN Portugal aconselham a via dos títulos, seja com recurso a ETF ou ETC. De forma simples, o primeiro é um fundo diversificado, que junta vários ativos; o segundo um título que representa o preço de uma matéria-prima.
Os dois formatos têm uma vantagem: evitam-lhe o transtorno (e os custos) de ter de guardar e zelar pela segurança do ouro que adquiriu.
Há ainda uma outra via: a compra de ações de empresas cujo principal negócio é o da extração desta matéria-prima.
“O que me parece adequado para a generalidade das pessoas com alguma capacidade de poupança é que haja um investimento em ouro até 3% a 5% do património, sempre numa perspetiva de não precisar desse valor no curto prazo e com capacidade de tolerar a volatilidade”, aponta Filipe Garcia.
“Importa também relembrar que comprar ouro trata-se de um investimento que não gera rendimentos regulares”, junta Adelino Gonçalves.