A propriedade Rothbury Estate estende-se ao longo de mais de nove mil acres no norte de Inglaterra. Durante quase sete séculos, foi propriedade dos duques de Northumberland. Contudo, em 2023, foi colocada à venda. Agora, o The Wildlife Trusts, um grupo de instituições de caridade britânicas dedicadas à conservação, tem interesse em comprá-la

O apresentador e especialista em ciências naturais David Attenborough está a apoiar um movimento para arrecadar 30 milhões de libras (cerca de 35 milhões de euros) para comprar e conservar uma enorme propriedade rural no Reino Unido.

A Rothbury Estate fica no coração de Northumberland, um condado no nordeste de Inglaterra, na fronteira com a Escócia. Com uma área de 9.486 acres (cerca de 3.839 hectares), possui florestas, rios, ruínas históricas e as Simonside Hills, famosas pelo seu perfil escarpado e vistas panorâmicas.

Durante quase sete séculos, esta propriedade pertenceu à família Percy, conhecidos como os duques de Northumberland. Contudo, em 2023, foi colocada à venda pelo seu filho mais novo, Max Percy. Tornou-se o maior terreno à venda em Inglaterra nos últimos 30 anos.

“Ficámos logo interessados”, conta Mike Pratt, presidente executivo do Northumberland Wildlife Trust. “Por acaso, fica ao lado de muitas outras propriedades e de parceiros – o National Trust, os parques nacionais, entre outros”.

“Queremos tentar criar um corredor natural com 64 quilómetros, que se estende da costa nordeste do país (Druridge Bay) até à fronteira com a Escócia, na floresta de Kielder”.

David Attenborough, presidente emérito do The Wildlife Trusts apoia esta angariação de fundos, alertando para a proteção desta área antes que seja tarde demais (Broni Lloyd)

Em outubro de 2024, o The Wildlife Trusts, composto por 46 fundações britânicas dedicadas à proteção da vida selvagem, em parceria com o Northumberland Wildlife Trust, comprou a parte ocidental da propriedade, que inclui as Simonside Hills e vários bosques, planícies, margens de rios e terrenos agrícolas. Esta instituição de caridade lançou também uma campanha para angariar 30 milhões de libras, com o objetivo de comprar o resto da propriedade.

“As pessoas ainda dizem que é muito dinheiro. Mas, se pensarmos no que gastamos em infraestruturas, estradas e tudo o resto, não é nada”, defende Pratt. “Temos de investir na natureza se quisermos que ela funcione”.

Conservação com escala

Atualmente, esta área abriga muitos animais, incluindo o esmerilhão, que é o menor falcão do Reino Unido, bem como aves que se reproduzem no verão, como a toutinegra-dos-bosques. Há ainda esquilos-vermelhos e enguias, que estão ambos sob ameaça de extinção.

Contudo, Pratt afirma que a vida selvagem no local podia ser ainda mais rica e diversificada. Além da conservação e restauro da natureza, o plano do The Wildlife Trusts para a área, que tem um tamanho semelhante à capital da Grécia, Atenas, também se concentra na renaturalização.

“Podemos trazer raças mais tradicionais, que se comportam como os animais originais que habitavam nesta paisagem”, refere. “Havia cavalos, póneis, gado de raças raras, castores. E até bisontes europeus”.

Rothbury Estate serve de casa a esquilos-vermelhos, que estão em risco de extinção (Peter Cairns/2020VISION)

Embora tenham existido preocupações acerca do modo como os esforços de conservação podem afetar os agricultores que trabalham atualmente nestes terrenos, Pratt reitera que existirão parcerias, inclusive para a produção de carne sustentável para as comunidades vizinhas, algo que terá um efeito positivo para a economia local.

“Estamos atrás de um terreno mesmo grande, como este, porque já não chega ter pequenos pedaços. Temos de fazer algo em grande escala se quisermos restaurar a natureza em 30% do território do Reino Unido. Atualmente, estamos em 7%”, aponta. O governo do Reino Unido comprometeu-se a proteger 30% do seu território e mar para a natureza até 2030, integrando uma meta global da ONU.

“Onde as pessoas e a natureza podem prosperar”

Até agora, as doações individuais e os esforços de angariação de fundos, principalmente de pessoas de Northumberland, deixam a instituição de caridade a menos de um terço da meta de 30 milhões de libras. Contudo, faltando apenas um ano para arrecadar o restante, Attenborough – presidente emérito do The Wildlife Trusts – juntou-se ao movimento.

“As pessoas conhecem e adoram as Simonside Hills, que se erguem aqui. Caminham pelas cumeeiras e ouvem os sons dos maçaricos”, afirma em comunicado. “Observam os esquilos-vermelhos e admiram a vista, enquanto se movimentam entre os penhascos. Caminham pelos trilhos remotos e ficam maravilhadas com as impressionantes pinturas rupestres que foram deixadas pelos nossos ancestrais”.

“Com as comunidades que vivem e trabalham em Rothbury, o The Wildlife Trust irá criar um lugar onde as pessoas e a natureza podem prosperar lado a lado”.

Se não conseguirem angariar o restante dinheiro até setembro de 2026, Pratt teme que o terreno seja dividido para fins muito variados, que não teriam a natureza como prioridade, como a silvicultura comercial e a agricultura intensiva.

“É algo que destruiria a paisagem. Perderíamos esta oportunidade, que é única nas nossas vidas”, afirma.