O director-geral da BBC, Tim Davie, e a directora executiva de informação, Deborah Turness, apresentaram a demissão da emissora pública britânica este domingo na sequência da polémica em torno de um documentário sobre o Presidente norte-americano, Donald Trump.
Num comunicado divulgado este domingo pela BBC, Davie esclareceu que se tratou de uma decisão pessoal após 20 anos na emissora, embora reconheça “alguns erros” pelos quais quis assumir a responsabilidade. “Tal como todas as organizações públicas, a BBC não é perfeita, e devemos ser sempre abertos, transparentes e responsáveis”, afirmou.
Deborah Turness disse ter tomado a “difícil decisão” de abandonar a direcção de informação da BBC por considerar não ter condições para manter a “visão colectiva” que ambiciona para a estação pública britânica: “perseguir a verdade sem uma agenda”.
“A controvérsia em curso sobre o [programa de documentários] Panorama sobre o Presidente Trump chegou a um ponto em que está a prejudicar a BBC, uma instituição que amo”, afirmou. “A responsabilidade é minha”, garantiu Turness, esclarecendo que a demissão tinha sido apresentada a Davie no sábado.
“Apesar de terem sido cometidos erros, quero deixar absolutamente claro que as alegações recentes de que a BBC News é institucionalmente preconceituosa são erradas”, acrescentou a jornalista. Turness chegou à BBC em 2022, vinda da estação ITN e depois de ter passado pela NBC, e na emissora pública britânica supervisionava uma equipa de seis mil pessoas, com emissões em mais de 40 línguas, segundo informação da própria BBC.
As duas demissões nos cargos de topo da BBC são o culminar de semanas de intensa pressão sobre a emissora britânica, acusada de coberturas tendenciosas de vários assuntos, incluindo a presidência de Trump e o conflito entre Israel e o Hamas.
Nos últimos dias, o Daily Telegraph divulgou o conteúdo de um relatório interno em que é sugerido que o programa BBC Panorama terá fortemente editado um discurso de Trump em que este parece incentivar a invasão ao Capitólio a 6 de Janeiro de 2021.
O relatório foi elaborado por Michael Prescott, que pertencia a um comité independente de supervisão das práticas jornalísticas da BBC, no qual acusa a emissora de um preconceito “grave e sistémico” na cobertura de Trump, da guerra em Gaza e do movimento de defesa dos direitos transgénero.
A ministra da Cultura, Lisa Nandy, saudou o trabalho de Davie à frente da BBC, sublinhando o apoio que deu à organização “para lidar com os desafios dos últimos anos”.
“Agora, mais do que nunca, a necessidade de uma programação de notícias confiáveis e de elevada qualidade é essencial para a nossa vida democrática e cultural, e para o nosso lugar no mundo”, acrescentou.