Cientistas descobriram uma nova classe promissora de antibióticos, até então desconhecida, com potencial para tratar infecções resistentes a medicamentos. O achado foi inesperado, já que o estudo não tinha como objetivo identificar novos fármacos.
O composto encontrado demonstrou atividade promissora contra bactérias multirresistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e Enterococcus faecium, microrganismos conhecidos por causar infecções de difícil tratamento em ambientes hospitalares.
O estudo publicado em 27 de outubro no Journal of the American Chemical Society, descreve a descoberta de uma molécula inédita, nomeada pré-metilenomicina C lactona. Segundo repercutido pela Live Science, os autores principais do estudo, Lona Alkhalaf e Greg Challis, afirmaram que o composto “pode ser considerado o primeiro de uma nova classe” de antibióticos.
Uma descoberta fora do objetivo
No entanto, o foco principal do estudo era investigar o antibiótico metilenomicina A e entender como ele é produzido pela bactéria do solo Streptomyces coelicolor.
Plantas e microrganismos produzem compostos complexos chamados metabólitos secundários — muitos deles com propriedades medicinais úteis para humanos. Compreender como essas substâncias se formam e como interagem com células humanas pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos a partir de produtos naturais.
Ao desativar genes específicos em clusters biossintéticos, os pesquisadores conseguiram interromper a produção da metilenomicina A em etapas estratégicas, permitindo observar compostos intermediários antes nunca detectados. A abordagem revelou pontos inéditos da rota de síntese da molécula.
O processo levou à identificação de duas moléculas inéditas, batizadas de pré-metilenomicina C e pré-metilenomicina C lactona. Após caracterizar suas estruturas, o grupo testou a atividade biológica dos compostos em diferentes cepas bacterianas, abrindo caminho para explorar seu uso terapêutico.
[É] 100 vezes melhor em matar bactérias resistentes a medicamentos do que o antibiótico original”, disseram Challis e Alkhalaf à Live Science.
Outro ponto-chave da pesquisa é que o novo composto não demonstrou induzir resistência bacteriana durante os testes — um avanço importante, já que a exposição repetida a antibióticos pode estimular mecanismos de defesa em bactérias, tornando infecções futuras cada vez mais difíceis de tratar.
Do potencial ao desafio clínico
Os próximos passos da pesquisa incluem ampliar os testes, tanto com mais cepas bacterianas quanto em estudos de longo prazo. Ainda assim, Stephen Cochrane, químico medicinal da Queen’s University Belfast, na Irlanda, que não participou do estudo, alertou que há diferença entre um composto com ação antibacteriana e um antibiótico viável para uso clínico. Segundo ele, o principal desafio será tornar a substância estável no organismo, eficaz por tempo suficiente e segura para humanos, sem induzir resistência bacteriana.
Enquanto isso, Alkhalaf e Challis avançam para uma nova etapa: produzir a molécula em laboratório. Em parceria com o químico David Lupton, da Monash University, na Austrália, o grupo desenvolve uma rota de síntese química para a pré-metilenomicina C lactona. O objetivo é fabricar o composto sem depender de microrganismos, permitindo a obtenção de maiores quantidades para testar seus efeitos e investigar sua ação em células humanas.