As operações da petrolífera fora da Rússia representam 0,5% do petróleo produzido diariamente em todo o mundo

A petrolífera russa Lukoil, uma das duas sancionadas pelos EUA no mês passado, está a enfrentar cada vez mais condicionamentos às suas operações internacionais.

As situações mais complicadas estão na Europa, mais concretamente na Bulgária, na Roménia e na Moldova.

A Lukoil é dona da refinaria de Burgas, responsável pelo fornecimento de 80% do combustível consumido na Bulgária. Na sexta-feira, o parlamento do país aprovou uma lei que dá ao governo local o poder de escolher um novo administrador para a refinaria, de tomar conta das operações da mesma, de aprovar a sua venda ou mesmo nacionalizá-la, se necessário.

Enquanto as questões legais não são resolvidas, o executivo do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov está a pedir aos EUA uma isenção do regime de sanções, semelhante àquela que Viktor Orbán conseguiu para a Hungria.

O Departamento do Tesouro dos EUA deu até 21 de novembro para que particulares e empresas cortem relações comerciais com a Lukoil ou com empresas nas quais a petrolífera russa tem uma participação de pelo menos 50%.

A situação da Bulgária é de elevado risco para o país. Se a refinaria de Burgas encerrar, cenário que ainda está em cima da mesa, Sofia ficaria sem reservas de combustível “até ao final do ano”, disse Martin Vladimirov, analista do think tank europeu Center for the Study of Democracy.

Um outro problema que a Bulgária enfrenta é o da procura por um comprador. A refinaria de Burgas está avaliada em 1,3 mil milhões de euros e, ao Politico, um ex-administrador da Lukoil reconheceu que será “difícil” encontrar um comprador disposto a lidar com os riscos colocados pelas sanções, bem como com os elevados custos de manutenção das operações.

Posto de combustível da Lukoil em Sofia, na Bulgária (Valentina Petrova/AP)

Na Roménia, o problema não é tão grave, mas, mesmo assim, o governo de Bucareste já disse que vai avaliar quaisquer propostas de venda de ativos, a fim de garantir o cumprimento da regulamentação da União Europeia e salvaguardar a segurança energética do país.

A Lukoil é dona da refinaria Petrotel, que produz 20% do combustível consumido na Roménia.

À semelhança da Bulgária, a Moldova também está a pedir uma isenção temporária aos EUA. De acordo com o ministro da Energia do país, Dorin Junghietu, a Lukoil é dona de um número significativo de postos de combustível e é a proprietária da única instalação de armazenamento, abastecimento e reabastecimento de combustível para aeronaves do aeroporto de Chisinau.

No norte da Europa, na Finlândia, a Teboil, detida pela Lukoil, está já a ficar sem combustível para abastecer os seus postos no país, confirmou um porta-voz da empresa ao jornal Helsingin Sanomat na sexta-feira, citando as sanções dos EUA como causa da escassez.

No Médio Oriente, o cenário para a Lukoil também não é famoso. Esta segunda-feira, a Reuters avançou que a petrolífera russa declarou motivos de força maior para não cumprir a sua parte do contrato de exploração do poço de petróleo West Qurna-2, que representa 9% – cerca de 480 mil barris por dia – da produção petrolífera do Iraque.

A agência afirma que, desde que as sanções dos EUA foram decretadas, as autoridades iraquianas suspenderam todos os pagamentos em dinheiro e crude para a empresa. Numa carta enviada na passada terça-feira ao governo iraquiano, a Lukoil informou que, caso os problemas não sejam resolvidos nos próximos seis meses, a empresa vai parar a produção e abandonar o projeto.

A situação pode escalar ainda mais a nível global. As operações da Lukoil fora da Rússia representam 0,5% do petróleo produzido diariamente em todo o mundo. A petrolífera detém percentagens importantes em explorações de gás e petróleo no Cazaquistão, Azerbaijão, Uzbequistão, assim como no México, em vários países da África Ocidental e também nos Países Baixos, onde a sua subsidiária Litasco detém 45% de uma refinaria na Zelândia, operada em conjunto com a francesa TotalEnergies.

Na semana passada, a Gunvor, empresa de comércio de matérias-primas, retirou a sua proposta de compra dos ativos internacionais da Lukoil após um tweet do Departamento do Tesouro.

“O presidente Trump tem sido claro: a guerra tem de terminar imediatamente. Enquanto Putin continuar com mortes sem sentido, a Gunvor, marioneta do Kremlin, nunca obterá uma licença para operar e lucrar”, escreveu aquele ministério americano.

A Gunvor, registada no Chipre, mas com escritórios em Genebra, na Suíça, rejeitou a acusação.

“A Gunvor sempre foi aberta e transparente sobre a sua propriedade e negócios e, há mais de uma década, distanciou-se ativamente da Rússia, deixou de negociar em conformidade com as sanções, vendeu os seus ativos russos e condenou publicamente a guerra na Ucrânia”, escreveu a empresa no X.