Kremlin

Vladimir Putin, presidente da Rússia
Políticos do CDU e do SPD avisam que a presença nessa conferência é um sinal perigoso para parceiros e investidores internacionais.
Quatro políticos do AfD – Alternativa para a Alemanha vão estar na Rússia, para estarem numa conferência.
Steffen Kotré, Rainer Rothfuß, Jörg Urban e Hans Neuhoff vão até Sochi, ainda durante esta semana, para participarem no Simpósio Internacional sobre o formato BRICS-Europa.
O BRICS é um grupo de cooperação económica que juntava Brasil, Rússia, Índia e China; agora também tem África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irão.
Antes de Fevereiro de 2022, esta viagem nem seria notícia, provavelmente. Mas com o cenário de guerra na Ucrânia e com as tensões evidentes entre Rússia e diversos países, é notícia na Alemanha; e alvo de críticas.
Políticos do CDU e do SPD avisam que essa viagem à Rússia é um sinal perigoso para parceiros e investidores internacionais.
Sepp Müller, vice-presidente do grupo parlamentar CDU/CSU no Parlamento alemão, disse no Handelsblatt: “O AfD deve identificar claramente a Rússia como agressora na conferência e exigir um cessar-fogo imediato. Caso contrário, colocará em risco a confiança dos investidores internacionais e prejudicará, mais uma vez, a economia alemã, que está virada para a exportação”.
Sebastian Roloff, do grupo parlamentar do SPD, também criticou o AfD. Considera que esta viagem revelou as verdadeiras intenções do partido de extrema-direita: “O AfD está a agir em benefício do ditador russo Vladimir Putin e, portanto, a prejudicar a economia da Alemanha. Os crimes de guerra em massa de Putin não parecem incomodar” o partido, alega. Além disso, acredita o social-democrata, o AfD quer voltar a receber gás russo e, assim, tornar-se dependente da Rússia.
Já Gitta Connemann (CDU), líder da União das Pequenas e Médias Empresas e da União Económica, descreveu o AfD como uma “enorme ameaça” à economia da Alemanha. O “retrocesso” de sair do euro e da União Europeia, e voltar ao gás russo, teria “consequências fatais”.
Para Gitta, qualquer pessoa que tente estreitar laços com o Kremlin coloca em risco investimentos, empregos, a segurança energética da Alemanha, a prosperidade do país e a estabilidade da Europa.
O secretário-geral da CSU, Martin Huber, foi mais longe: “Isto é traição. Há muito tempo que o AfD é o porta-voz de Moscovo na Alemanha. Qualquer um que permita que os capangas de Putin ditem as suas políticas não é um patriota, mas um fantoche e um risco para o nosso país”, completou Huber.
“Não percebem nada”
O grupo parlamentar do AfD não vê qualquer problema. Apoia a viagem e vai pagar as despesas. A ideia da viagem, indica o partido, é manter em aberto os canais de comunicação com a Rússia.
Os deputados do AfD são constantemente acusados de serem muito próximos do Kremlin. O partido quer o fim das sanções contra a Rússia – e já foi acusado de espiar para o Kremlin.
Hans Neuhoff, um dos membros que estarão na Rússia, explica: “Os políticos da União Europeia que pensam que devemos ignorar o BRICS não percebem nada de geopolítica. Estão a levar a Alemanha e a Europa para a marginalidade, não para um futuro próspero”.
Bernd Baumann, líder do grupo parlamentar do AfD, rejeitou as acusações de traição. E olhou para a história: “Se os contactos com Moscovo fossem considerados traição, que era na altura o líder do CSU, Franz Josef Strauss, já teria cometido traição quando voou para Moscovo para negociações em 1987 num avião que ele mesmo pilotou, bem no meio da guerra de agressão ilegal contra o Afeganistão”.
E lembra que o grupo parlamentar da AfD condenou, por unanimidade, a invasão da Rússia à Ucrânia.
Steffen Kotré, outro participante na conferência em Sochi, admite que a comitiva vai à procura de “interesses alemães” que, alega, o Governo da Alemanha já nem procura: energia a preços acessíveis e “diplomacia da paz”.