A primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi disse esta segunda-feira que um ataque militar da China contra Taiwan colocaria o Japão numa “situação de crise” e justificaria uma intervenção das Forças de Autodefesa japonesas.

“Eu disse no outro dia que poderia recorrer à força, dependendo da situação, mas o Governo tomaria a decisão analisando todos os fatores”, disse Takaichi durante uma sessão extraordinária na câmara baixa do parlamento japonês, ao ser questionada sobre uma possível intervenção militar chinesa em Taiwan.

A primeira-ministra reiterou uma posição, expressa na sexta-feira passada perante o parlamento, de que o “pior cenário possível” de um ataque e bloqueio com navios de guerra contra Taiwan colocaria em risco a sobrevivência do Japão.

[Há dúvidas até ao fim que acabam na vitória mais curta da História. A “Eleição Mais Louca de Sempre” é o novo Podcast Plus do Observador sobre as Presidenciais de 1986. Uma série narrada pelo ator Gonçalo Waddington, com banda sonora original de Samuel Úria. Pode ouvir o último episódio aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui e o quinto aqui]

O conceito de uma “situação que ameaça a sobrevivência” permite ao exército japonês agir no quadro da denominada “autodefesa coletiva”, graças a uma série de revisões da legislação do arquipélago, cuja Constituição pacifista estabelece que o país só pode recorrer à força militar para se defender, e renuncia à guerra para resolver conflitos internacionais.

O porta-voz do Governo japonês, Minoru Kihara, afirmou, por sua vez, que a postura do Governo em relação a Taiwan “mudou”. “A paz e a estabilidade de Taiwan são importantes para a segurança do Japão e da comunidade internacional“, afirmou esta segunda-feira Kihara, numa conferência de imprensa.

Os comentários de Takaichi surgem depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês ter criticado, no início de novembro, a nova primeira-ministra japonesa por se ter reunido com o ex-vice-primeiro-ministro de Taiwan e conselheiro presidencial Lin Hsin-i, à margem da cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) na Coreia do Sul.

O Japão reconheceu a República Popular da China como o único governo legítimo da China num documento conjunto que remonta a 1972, quando ambos os países normalizaram as relações diplomáticas bilaterais e Tóquio rompeu relações com Taiwan.

Desde então, Tóquio mantém intercâmbios não governamentais com Taipé. O antigo primeiro-ministro assassinado, Shinzo Abe, chegou a sublinhar durante o seu mandato que uma eventual invasão da ilha implicaria uma intervenção japonesa no conflito, no âmbito do acordo de segurança que une Tóquio aos Estados Unidos e seus aliados.

A China considera a ilha, autogovernada desde 1949, como parte inalienável do território chinês e advertiu repetidamente que não renunciará ao uso da força para alcançar a reunificação.

Taiwan, por sua vez, sustenta que a República da China — denominação oficial de Taiwan — e a República Popular da China “não estão subordinadas uma à outra”.