“A exposição prolongada ao calor extremo pode afetar vários sistemas orgânicos”, explica Amit Shah, geriatra da Mayo Clinic (organização de saúde sem fins lucrativos dos Estados Unidos que é referência mundial em prática clínica, educação e pesquisa). O sistema cardiovascular, por exemplo, precisa trabalhar mais para desviar o sangue para a pele para liberar calorforçando o coração a bater mais rápido

Já o sistema nervoso, por sua vez, pode ficar superestimulado, provocando sintomas como tonturas, confusão e lapsos de memória. Os rins se esforçam para conservar água, aumentando o risco de desidratação e danos renais. E o sistema imunológico pode inundar o corpo com substâncias químicas inflamatórias, imitando uma resposta infecciosa.

Embora essas reações tenham como objetivo nos proteger em curtos períodos, elas se tornam prejudiciais quando a exposição é constante. “É como ter um motor de carro que está sempre superaquecendo”, diz Adedapo Iluyomade, cardiologista preventivo do Miami Cardiac & Vascular Institute (maior centro de cuidados cardiovasculares e vasculares da Flórida, nos Estados Unidos). “Eventualmente, o estresse constante faz com que as peças se desgastem mais rápido do que deveriam.”

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Mas os danos causados pelo calor não se limitam aos órgãos principais. Os cientistas estão agora descobrindo como as altas temperaturas podem alterar até o funcionamento dos nossos genes. O calor crônico atua como um fator de estresse biológico, provocando inflamação, danos oxidativos e distúrbios hormonais. “Com o tempo, essas respostas repetidas ao estresse térmico podem alterar o comportamento dos seus genes”, diz Iluyomade. “Portanto, em vez de apenas ajudar o corpo a se adaptar conforme necessário, o calor crônico pode desgastar sistemas importantes e acelerar o declínio relacionado à idade.”

Isso acontece, em parte, por meio de um processo conhecido como envelhecimento epigenético — uma forma de envelhecimento interno que pode ultrapassar sua idade cronológica.

O estudo publicado no jornal científico estadunidense “Science Advances”, em 2025, que tem Choi como co-autora, examina como o calor extremo afeta os idosos usando uma ferramenta chamada relógio epigenético, que estima a idade biológica com base na metilação do DNA — “marcas” químicas que regulam a atividade dos genes. 

Essas mudanças epigenéticas podem persistir muito tempo depois que um fator de estresse ambiental, como o calor extremo, tiver terminado”, explica Choi. “Em alguns casos, o corpo ‘lembra’ do estresse de uma forma que não é útil — ou até mesmo prejudicial — mais tarde na vida.”