O Comité Olímpico Internacional (COI) está a preparar-se para afastar todas as atletas transgénero das categorias femininas dos Jogos Olímpicos. De acordo com o The Times, o organismo pode anunciar a decisão já no início do próximo ano e incluí-la desde logo nas próximas edições de inverno e verão.

De recordar que, até aqui, o COI tinha optado por entregar a cada modalidade a liberdade de tomar uma decisão sobre a participação de atletas transgénero nas respetivas competições — ainda que defendendo que as mulheres transgénero só poderiam competir com níveis reduzidos de testosterona, ou seja, sendo submetidas a medicação hormonal. Mas Kirsty Coventry, eleita presidente do organismo no passado mês de março, tinha prometido durante a campanha que iria “proteger as categorias femininas”. 

Segundo o jornal The Times, a diretora médica e científica do COI apresentou na semana passada aos restantes membros as conclusões iniciais de um relatório científico pedido pela organização sobre as atletas transgénero e as atletas com diferenças no desenvolvimento sexual. De acordo com o relatório, existem provas científicas de que alguém que nasceu biologicamente com o sexo masculino terá sempre vantagem físicas — mesmo que tenha realizado tratamentos de supressão hormonal durante vários anos.

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“Foi uma apresentação muito científica, muito factual e muito pouco emocional que deixou as evidências muito claras”, referiu uma das fontes do The Times que esteve presente na reunião, que decorreu em Lausanne, acrescentando que o feedback dos elementos do COI foi largamente positivo. Assim, de acordo com a notícia, o mais provável é que o COI anuncie o afastamento total e transversal de todas as atletas transgénero das categorias femininas já no início do próximo ano — a tempo de abranger os Jogos Olímpicos de inverno, que estão marcados para fevereiro, em Milão-Cortina.

Em junho, Kirsty Coventry já deixado a ideia de que este seria o caminho a seguir. “Percebemos que existem diferenças de modalidade para modalidade. Devemos fazer o esforço de colocar ênfase na proteção das categorias femininas e devemos garantir que isso é feito com o consenso de todas as partes interessadas. Mas precisamos de o fazer com uma abordagem científica e com a inclusão das federações internacionais, que já realizaram muito trabalho nesta área”, explicou a presidente do COI, que é também antiga nadadora olímpica.

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Ao longo dos últimos anos, face à ausência de regulamentação absoluta e transversal do COI, as federações internacionais foram tomando as respetivas decisões. A World Rugby foi a primeira a afastar as atletas transgénero do râguebi feminino, logo em 2020, e a World Athletics e a British Triathlon fizeram o mesmo em 2022. Em 2023, foi a vez da World Athletics. Em fevereiro, Donald Trump assinou uma ordem executiva que proíbe todas as mulheres transgénero de competir nas categorias femininas nos EUA, garantindo que a decisão abrange os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028 e que irá rejeitar quaisquer pedidos de visto de atletas transgénero para a competição.

Por fim, o The Times refere ainda que a decisão do COI também deve incluir as atletas com diferenças no desenvolvimento sexual — ou seja, atletas que nasceram biologicamente com o sexo feminino, mas que têm alterações hormonais, níveis de testosterona considerados acima da média para uma mulher ou mesmo alterações no sistema reprodutor e/ou órgãos genitais. Ou seja, casos como o de Caster Semenya, bicampeã olímpica nos 800 metros que arrasta um diferendo legal no Tribunal Arbitral do Desporto e no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem há quase uma década, e o de Imane Khelif, pugilista da Algéria que foi campeã olímpica em Paris.

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