A Web Summit começou, esta segunda-feira, com um sinal inequívoco: a inteligência artificial (IA) deixou de ser apenas uma promessa para se tornar o centro da competição económica, política e cultura a nível global. Nas primeiras intervenções, ficou claro que a discussão já não é apenas sobre tecnologia, mas sobre quem a controla, como é usada e que impacto pode ter.
Paddy Cosgrave, fundador deste que é considerado um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, marcou o tom logo no arranque da conferência, ao sublinhar que os protagonistas desta nova fase da inteligência artificial já não vêm apenas do Ocidente. “Ao longo dos próximos dias, vão encontrar os robôs humanoides mais avançados do mundo. Não são europeus, não são americanos – são chineses”, afirmou, acrescentando que alguns dos principais modelos de IA presentes na Web Summit vêm sobretudo dessa geografia.
Portugal como “centro global de inovação”
Pouco depois, Portugal apresentou a sua própria leitura desta mudança. Gonçalo Matias, ministro Adjunto e da Reforma do Estado, afirmou que o país pretende “tornar-se um centro global de inovação”. “A IA, os dados e a transformação digital estão a remodelar a nossa administração e até a própria ideia de governação”, explicou.
Entre as medidas já anunciadas ou em preparação estão uma estratégia nacional para centros de dados, a criação de uma cloud soberana e o Pacto de Competências Digitais, que prevê formar mais de dois milhões de pessoas até 2030. O ministro confirmou ainda que a Agenda Nacional de IA “será apresentada nas próximas semanas”, embora sem avançar detalhes sobre a mesma.
Também Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, procurou enquadrar este momento num horizonte mais amplo, afirmando que o desafio atual não é apenas tecnológico. “Nos próximos dez anos, Lisboa não vai ser só a capital da inovação, vai ser a capital da cultura e da justiça social”, reforçou.
A IA e o entretenimento
A articulação entre tecnologia, cultura e economia foi também sublinhada noutros palcos. A antiga tenista Maria Sharapova conversou com Sarah Meron, vice-presidente de Marca e Assuntos Corporativos da IBM, sobre a forma como a inteligência artificial já está a transformar o desporto profissional.
Maior rapidez na análise de jogos, recuperação física de atletas monitorizada em tempo real e experiências personalizadas para adeptos foram apenas algumas das transformações identificadas pelas oradoras. Foi neste contexto que a IBM apresentou o Sports Tech Startup Challenge, um programa que pretende identificar e apoiar startups que estejam a desenvolver soluções de IA aplicadas ao desporto.
Num registo diferente, mas ligado pela mesma transformação económica, Khaby Lame – o criador mais seguido do TikTok – subiu ao palco ao lado de Mark Nelson, responsável da Visa, para falar da profissionalização da economia dos criadores de conteúdo.
A noite terminou com a apresentação da Lovable, descrita como uma das startups europeias que mais rapidamente está a crescer, e que se dedica ao desenvolvimento de software assistido por IA. A empresa mostrou como tarefas que antes exigiam equipas inteiras de programadores podem agora ser executadas por uma única pessoa, em poucas horas, graças a modelos avançados de geração e automação de código.