“O almirante Henrique Gouveia e Melo não se refere, em momento algum, durante a entrevista, concedida à jornalista Valentina Marcelino, realizada para o livro As Razões como tendo sido o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ou qualquer declaração sua, a motivação para se candidatar à Presidência da República”. É assim que a candidatura de Gouveia em Melo à presidência da República reage esta segunda-feira, 10 de novembro, à notícia avançada no domingo pela Lusa, segundo a qual este revela no livro que só decidiu avançar para Belém quando leu uma notícia no Expresso de que Marcelo Rebelo de Sousa pretendia travar a sua candidatura presidencial através da sua recondução como chefe da Armada. Entretanto, a direção de informação da Lusa já rejeitou as acusações.
“A notícia da agência Lusa, publicada ontem, com o título ‘Presidenciais: Gouveia e Melo revela que foi tentativa de Marcelo para o travar que o levou a candidatar-se’ é falsa e enferma de uma falta de rigor inaceitável, razão pela qual se exige a reposição da verdade dos factos”, diz a candidatura do almirante num comunicado intitulado “Não vale tudo”.
Remetendo para as páginas 123, 124 e 125 da obra de Valentina Marcelino, diretora-adjunta do DN, a candidatura do almirante realça que “relevou para a sua decisão ter percebido que o Presidente da República e o Governo não estavam verdadeiramente interessados em nada da defesa e, portanto, não teria oportunidade de fazer a diferença enquanto CEMA. A candidatura à Presidência da República foi motivada, sobretudo, pela vontade de continuar a servir Portugal de forma ativa e a contribuir para os destinos do País, perante um cenário de instabilidade política a nível nacional e de incerteza internacional”.
A candidatura exige à Lusa a publicação deste esclarecimento e lamenta que a agência “contribua para a proliferação de uma notícia que objetivamente visou desinformar e manipular as declarações proferidas por Henrique Gouveia e Melo no livro atrás citado”.
O artigo de domingo da agência Lusa referia que, no livro, o almirante revela que só decidiu avançar para Belém quando leu uma notícia no Expresso de que Marcelo Rebelo de Sousa pretendia travar a sua candidatura presidencial através da sua recondução como chefe da Armada.
“Foi esse artigo que me fez definir o rumo. Porque quando o li, fiquei mesmo danado”, citava a Lusa. O artigo em causa, de outubro do ano passado, indicava que Marcelo pretendia reconduzir Gouveia e Melo como chefe do Estado-Maior da Armada para evitar a sua candidatura presidencial, mas este só aceitava se houvesse um investimento significativo na força naval, chegando-se mesmo a referir a compra de mais submarinos.
“De facto o Governo – e também o senhor Presidente da República – não pareciam interessados em nada da defesa, para além de fazerem umas correções nos ordenados dos militares. Assim, deduzi que o que pretendiam era que eu ficasse amarrado à Marinha com o eventual ‘prémio’ de, no fim, poder ser CEMGFA e atingir o topo da carreira militar. Pensaram, especulo eu, que ficaria muito contente por me darem a oportunidade”, citava a Lusa. “Ora, queriam dar-me importância sem me darem poder para fazer nada. Muito obrigado. Foi aí que decidi: Vou entrar no campo das verdadeiras decisões, a política”, continuava a citação.