As últimas análises revelam que as emissões de dióxido de carbono da China permaneceram estáveis ou em queda nos últimos 18 meses, reforçando a esperança de que o maior poluidor do mundo tenha conseguido atingir a sua meta de pico de emissões de CO2 bem antes do previsto.


A tendência, que começou em março de 2024, significa que as emissões de CO2 podem cair este ano, na ausência de um pico no final do ano
, mostrou a análise de Lauri Myllyvirta, do Centro de Investigação de Energia e Ar Limpo, com sede em Helsínquia.A emissão de CO2 aumentou 0,8 por cento em 2024,
após uma recuperação pós-pandemia no início do ano, segundo uma análise
anterior da publicação climática Carbon Brief.

O rápido aumento da implementação da geração de energia solar e eólica – que cresceu 46 por cento e 11 por cento, respetivamente, no terceiro trimestre deste ano – fez com que as emissões do setor energético do país se mantivessem estáveis, mesmo com o aumento da procura de eletricidade.


A China adicionou 240 GW de capacidade solar nos primeiros nove meses deste ano e 61 GW de energia eólica, o que a coloca a caminho de bater mais um recorde de energias renováveis em 2025. No ano passado, o país instalou 333 GW de energia solar, mais do que o resto do mundo. 


A análise do Centro de Investigação em Energia e Ar Limpo (Crea), para o Carbon Brief, constatou que as emissões de CO2 da China permaneceram inalteradas em relação ao ano anterior no terceiro trimestre de 2025, graças, em parte, à queda das emissões dos setores das viagens, cimento e aço.



Lauri Myllyvirta, analista-chefe da Crea, observou que a tendência geral de emissões da China para 2025 poderá ainda registar um pequeno aumento, dependendo do que acontecer no último trimestre do ano.

Mas, assumindo que 2025 segue a tendência dos anos anteriores, em que a procura de eletricidade chinesa e as emissões associadas crescem mais rapidamente nos meses de Verão, as suas emissões de CO2 poderão registar uma descida ao longo do ano.

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa no meio
das alterações climáticas (15,6 mil milhões de toneladas de CO2
equivalente) e o país com a maior frota de veículos elétricos e
infraestruturas de energia renovável.

Embora a China esteja provavelmente no bom caminho para atingir a sua meta de pico de emissões antes do previsto, a analista da Crea frisou que algumas áreas da economia estão na contramão da tendência de descarbonização.

A procura de petróleo e as emissões no sector dos transportes caíram cinco por cento no terceiro trimestre, mas cresceram 10% noutros sectores, devido ao aumento da produção de plásticos e outros produtos químicosMetas demasiado modestas

As metas duplas de Pequim em matéria de carbono são atingir o pico de emissões até 2030 e a neutralidade líquida até 2060. Em setembro, o país divulgou as suas mais recentes metas climáticas, que visam reduzir as emissões totais de gases com efeito de estufa entre sete por cento e 10 por cento do pico até 2035.

A estabilidade das emissões no terceiro trimestre de 2025 ocorreu porque o aumento das emissões do setor químico compensou as quebras ou estabilizações noutros setores.Mas a China tem um historial de prometer menos e de entregar mais do que o esperado em relação às metas climáticas.

As emissões do setor dos transportes caíram cinco por cento e as do setor elétrico mantiveram-se estáveis no terceiro trimestre, mesmo com o aumento de 6,1 por cento da procura de eletricidade, segundo a análise.



Os especialistas afirmam que estas metas são demasiado modestas para evitar uma catástrofe global e estão muito aquém da redução de 30 por cento que é viável e necessária.

A geração de eletricidade a partir de fontes eólicas, solares, nucleares e hidroelétricas cobriu cerca de 90 por cento deste aumento da procura. A geração a gás também reduziu a quota de carvão.

No entanto, o crescimento da indústria química impediu a queda das emissões totais. A produção de plástico cresceu 12 por cento em termos homólogos, entre janeiro e setembro, impulsionada pela crescente procura interna de plástico para entrega de alimentos e comércio eletrónico.



A China também aumentou a produção interna de polietileno, o tipo de plástico mais utilizado, em resposta à guerra comercial com os EUA, segundo a análise.


O Governo incentivou ainda as refinarias a migrarem para a produção química para compensar a queda da procura de combustíveis para os transportes, no meio da ampla transição para os veículos elétricos.


Li Shuo, diretor do China Climate Hub no Asia Society Policy Institute, um think tank sediado nos EUA, afirmou numa nota que as mais recentes metas climáticas chinesas devem ser vistas como uma base e não como um teto.

A China está também a caminho de não atingir a sua meta de redução da intensidade carbónica – as emissões de CO2 por unidade de produto interno bruto – entre 2020 e 2025.

Isto significa que serão necessárias reduções mais drásticas para que o país atinja a sua meta de 2030 de reduzir a intensidade carbónica em 65 por cento, em comparação com 2005.

China elogiada na COP30

As conclusões surgem numa altura em que os líderes globais se reúnem no Brasil para a COP30, que decorre num contexto de crescente urgência na luta contra a crise climática.

O presidente chinês, Xi Jinping, não compareceu na cimeira de líderes na conferência climática da ONU, mas a delegação chinesa está presente nas negociações. O homólogo americano de Xi, Donald Trump, também não compareceu nem enviou uma equipa de negociação.A saída dos EUA dos acordos climáticos
internacionais sob a presidência de Donald Trump abriu espaço para que a
China desempenhe um papel maior na questão, incluindo na COP30, a
cimeira climática da ONU no Brasil.

Na semana passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o mundo enfrenta uma “falha moral e negligência mortal” caso os governos não consigam limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Na segunda-feira, André Corrêa do Lago, diplomata brasileiro e presidente da COP30, elogiou o progresso da China nas tecnologias verdes. “A China está a apresentar soluções que são para todos, não apenas para a China”, disse, acrescentando que os países ricos perderam o entusiasmo em enfrentar a crise climática.



Na China, todas as atenções estão viradas para o 15.º Plano Quinquenal, que define as prioridades e políticas do governo para o período de 2026 a 2030.


O texto integral só será publicado no próximo ano, mas as autoridades chinesas já indicaram que os sistemas energéticos de baixo carbono serão um dos focos do plano.


c/ agências