O governador do Rio de Janeiro puxou dos galões e considerou a Operação Contenção, que resultou na morte de 121 pessoas (incluindo quatro agentes), um “sucesso” — “tirando a vida [perdida] dos polícias”. No entanto, de acordo com um relatório divulgado pela Reuters, as autoridades brasileiras não conseguiram chegar à grande maioria dos 69 nomes identificados.

Apenas cinco das pessoas identificadas pelos procuradores na denúncia que deu base à operação foram detidas e nenhum deles era um dos líderes do Comando Vermelho, grupo criminoso que domina a região brasileira, sobretudo a área envolvente à Serra da Misericórdia, onde estão os complexos da Penha e do Alemão.

Rio de Janeiro. A operação histórica montada para encurralar traficantes na mata, os corpos em fila e as críticas de Brasília

A ação que mobilizou mais de 2500 agentes das polícias Civil e Militar resultou na detenção de 99 pessoas. Edgar Alves de Andrade, líder do Comando Vermelho, conhecido como Doca, continua em paradeiro incerto, assim como as principais figuras do grupo.

De acordo com o relatório consultado em exclusivo pela Reuters, foi detido apenas um líder “de nível médio” do grupo sem disparar tiros. Estes dados revelados pela agência contrariam os primeiros relatos sobre a operação realizada em dois complexos densamente povoados nas favelas do lado norte do Rio de Janeiro.

Victor dos Santos, responsável pela segurança pública do Rio de Janeiro, confirmou à Reuters que o objetivo da operação era deter os homens identificados, mas, justificou, “não é muito fácil ir atrás de 69 pessoas no meio de 280 mil” que vivem em favelas. Apesar de 19 dos mortos não terem cadastro criminal, Victor dos Santos tem 100% certeza que eram criminosos.

epa12490879 Aerial photograph of dead bodies in Rio de Janeiro, Brazil, 29 October 2025. The police operation launched on 28 October in Rio de Janeiro, the deadliest in the Brazilian city's history, left more than 100 people dead, including four officers, according to the Public Defender's Office. EPA/RENATO SPYRRO WARNING EDITORS: EXPLICIT GRAPHIC CONTENT

RENATO SPYRRO/EPA

A Operação Contenção dividiu a opinião dos líderes brasileiros. O Presidente brasileiro considerou-a “desastrosa”, mas enquanto Lula da Silva tem defendido ações policiais com o objetivo de combater o crime financeiro, Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro e próximo de Jair Bolsonaro, manifestou a importância de deter (e matar) líderes de gangues como o Comando Vermelho.

O povo brasileiro, sobretudo os familiares, amigos e vizinhos das vítimas — além de associações dos direitos humanos — acusaram a polícia de matar indiscriminadamente os moradores das favelas.

“[A polícia] deteve, matou e está tudo bem, porque sabem que não há lei aqui. (…) No Brasil, isto é o normal”, disse Samuel Peçanha, pai de um jovem de 14 anos morto pelos polícias. O homem reconheceu que o filho pertencia ao Comando Vermelho, mas explicou que ainda tinha esperanças de convencê-lo a abandonar esse mundo. “Ele ainda era uma criança. Infelizmente, não consegui tirá-lo”.

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