Rosário Farmhouse, presidente cessante da Assembleia Municipal de Lisboa, avisou que quem lhe sucederia teria um “mandato exigente” e parece ter antecipado o que pode bem ser uma surpresa na organização da Câmara.

Decorreu esta noite a primeira reunião da Assembleia, tendo em vista a composição da Mesa e, sabe o DN, há surpresa. O novo presidente é André Moz Caldas, que estava na lista do PS-Livre-Bloco-PAN.

A coligação PSD-CDS-IL tinha mais votos para a Assembleia Municipal a 12 de outubro. Em conjunto, somava 21 deputados, acrescentando a estes 11 eleitos na Câmara Municipal, nem todos do PSD.

Mas era neste capítulo que poderia residir a esperança do PS e da coligação de Bloco, PAN e Livre. Estes quatro partidos tinham 12 presidentes e 18 mandatos. Mas havia uma peça no xadrez: a CDU, que tem uma freguesia e seis mandatos municipais.

Como tal, CDU e PS negociaram ativamente na última semana para um reequilíbrio de forças em Lisboa, tendo a perspetiva de compor uma lista mais votada. Contando com a CDU, essa lista ficaria com 37 deputados municipais. Se o Chega votasse favoravelmente à esquerda, poderia derivar imediatamente para André Moz Caldas ficar com a liderança da Assembleia, mas a perspetiva, pelo que o DN sabe, é que o partido de André Ventura se pudesse aliar ao PSD no caso de a CDU estar com o PS.

Assim, os socialistas começaram a averiguar junto de centristas e liberais possíveis insatisfações com cargos e pelouros na Câmara.

A decisão não estava tomada à entrada para a reunião de hoje dos deputados municipais, sendo imprevisível, portanto, o desfecho.

“O PCP sempre defendeu uma solução em que a mesa apresenta a compromissão plural do órgão tendo em conta os resultados eleitorais. Vimos na solução encontrada no mandato passado uma solução de consenso, na lista única de consenso, assegurando essa representação plural na mesa. Foi isso que procurámos fazer também este ano. Isso, infelizmente, foi indisponibilizado, pelo menos até agora, pelo PS e PSD. Vamos dar novamente um contributo para que se encontre uma possibilidade de assegurar na Mesa da Assembleia uma composição plural que tenha em conta os resultados eleitorais”, afirmou João Ferreira à Imprensa, perspetivando a negociação, induzindo que existiram conversas nesse âmbito.

Mas declarou exigências ao dizer que o PCP “não estará disponível para apoiar um ou outro dos candidatos”, por entender que “isso não asseguraria a representação plural benéfica.”

Agora, é oficial. Moz Caldas é o novo presidente da Assembleia e já tomou posse, perante estupefação de muitos. Depois de a CDU ter-se mantido à margem da negociação em Lisboa, foi a coligação entre os comunistas e o PS, além de uma negociação por fora com opositores, a valer a surpresa. Ao Diário de Notícias, fonte da Iniciativa Liberal garante que os membros não votaram contra Moedas ou Margarida Mano.

Já ao cair da noite, o CDS-PP, pelo deputado municipal Francisco Camacho, afirma ser “totalmente falso que tenha havido qualquer voto do CDS-PP na candidatura de André Moz Caldas”, vincando que o partido “manteve uma posição coerente e transparente, alinhada com a coligação ‘Por Ti, Lisboa’, que venceu de forma clara as eleições autárquicas de 12 de outubro.”

O CDS-PP argumenta ser “evidente que o CDS-PP esteve do lado da solução legitimada nas urnas”, fazendo contas a “31 votos para Margarida Mano num universo de 32 deputados municipais eleitos pela coligação Por Ti, Lisboa”. Nesse caso, o partido infere que um dos votos da coligação à direita foi para André Moz Caldas.

“Ora, isto torna claro foi o Chega quem deu a vitória à esquerda”, aponta Francisco Camacho, reiterando: “O CDS-PP esteve, está e continuará comprometido com a solução que resultou da vitória da coligação ‘Por Ti, Lisboa’, defendendo o mandato que os lisboetas nos confiaram. Qualquer tentativa de insinuar o contrário é não só falsa, como injusta para com o trabalho sério e coerente que temos desenvolvido.”