Disney / DivulgaçãoJamie Lee Curtis e Lindsay Lohan em “Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda” (2025), filme de Nisha Ganatra.Disney / Divulgação

A comédia Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (Freakier Friday, 2025) estreou no dia errado. E por duas vezes. Por conta das particularidades do mercado brasileiro, entrou em cartaz em uma quinta-feira quando chegou aos cinemas. Agora, está sendo lançado no streaming, no Disney+, em uma quarta-feira, neste 12 de novembro.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda surfa na onda das continuações tardias, que retomam filmes lançados há 10, 20 ou até 40 anos, não tem hora para acabar. Entre os exemplos recentes, temos a animação Divertida Mente 2 (2024), as comédias Beetlejuice Beetlejuice: Os Fantasmas Ainda se Divertem (2024) e Um Tira da Pesada 4 (2024), o épico Gladiador II (2024) e o terror Extermínio: A Evolução (2025).

O filme é dirigido pela canadense Nisha Ganatra, de Talk Show: Reinventando a Comédia (2019) e A Batida Perfeita (2020), e dá sequência a Sexta-Feira Muito Louca (2003), de Mark Waters. Baseada no romance Que Sexta-Feira Mais Pirada! (1972), de Mary Rodgers, a comédia original foi um sucesso: com orçamento de US$ 26 milhões, arrecadou US$ 160,8 milhões, além de valer uma indicação a Jamie Lee Curtis no Globo de Ouro de melhor atriz em comédia ou musical. O novo título custou mais, US$ 45 milhões, e faturou menos, US$ 153,1 milhões nas bilheterias.

Walt Disney Productions / DivulgaçãoJamie Lee Curtis e Lindsay Lohan em “Sexta-Feira Muito Louca” (2003), filme de Mark Waters.Walt Disney Productions / Divulgação

Na trama de 2003, Lindsay Lohan — então uma estrela em ascensão, antes da decadência por causa dos problemas de saúde mental que a levaram ao álcool e outras drogas — interpreta a filha adolescente da personagem de Jamie Lee Curtis. As duas, a roqueira Anna e a terapeuta Tess, não fazem outra coisa a não ser brigar. Decididas a parar com o clima pesado, elas vão longe demais: trocam repentinamente de corpo, o que provoca uma série de confusões. 

A história de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda está ambientada nos dias atuais. Curtis, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022) e do Emmy de atriz convidada pelo seriado O Urso, em 2024, e Lohan, que vem retomando sua carreira (vide as comédias românticas Pedido Irlandês e Nosso Segredinho, ambas lançadas no ano passado), reprisam seus papéis. 

Tess continua casada com Ryan (Mark Harmon), trabalhando como terapeuta — mas agora tem de lidar com uma inaptidão para a tecnologia — e “cuidando” de Anna. A filha, que segue compondo canções de rock, mas às escondidas (acha que seu tempo já passou), se tornou mãe solteira de Harper, uma adolescente. Essa personagem é interpretada pela promissora Julia Butters, que contracenou com Leonardo DiCaprio em Era uma Vez em… Hollywood (2019).

Disney / DivulgaçãoJulia Butters e Sophia Simmons em “Uma Sexta-Feira Muito Louca”.Disney / Divulgação

O conflito catalisador da nova troca de corpos é estabelecido logo de cara. Surfista e low-profile, Harper tem atritos no colégio com uma aluna recém chegada da Inglaterra, a fashionista Lily (Sophia Simmons, da série Amor nas Alturas). Anna e o pai dessa garota, o viúvo Eric (o filipino Manny Jacinto, da minissérie Nove Desconhecidos), se apaixonam fulminantemente e resolvem se casar. Não bastasse terem virado irmãs, Harper teme que sua mãe vá se mudar para Londres, pois Lily quer ir embora de Los Angeles.

Durante uma festa, uma vidente meio de araque, meio certeira, a Madame Jen (Vanesa Bayer), alerta as quatro personagens femininas — primeiro Anna e Tess, depois Harper e Lily: “Troquem o que há de errado no que sentem para chegar ao lugar onde pertencem”. 

Glen Wilson / DivulgaçãoEm “Uma Sexta-Feira Muito Louca”, Anna e Harper, mãe e filha, trocam de corpo, assim como Tess e Lily.Glen Wilson / Divulgação

Na manhã seguinte, eles descobrem que o que trocaram foi seus corpos: Anna se tornou Harper, a consciência de Harper agora está dentro da mãe, Tess virou Lily, e vice-versa. E tudo isso acontece às vésperas do casamento, que agora está duplamente ameaçado: tanto por esse obstáculo físico quanto pelas vontades das garotas.

A reconfiguração rende ótimos momentos cômicos, sobretudo por causa da atuação de Jamie Lee Curtis. A atriz está impagável no papel de uma adolescente ultrapreocupada com a aparência que de repente se descobre no corpo de “uma velha em decomposição”. Sua visita à loja de discos de uma antiga paixão de Anna, o bonitão Jake (Chad Michael Murray, presente no elenco de Sexta-Feira Muito Louca), também rende boas risadas — particularmente, adorei a piada com as capas que estampam os rostos de cantoras: Madonna, Sinéad O’Connor, Sade…

Mas Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda acabou me pegando mais pelo drama do que pela comédia. Chorei mais do que ri — e quando digo chorei, foi de molhar o rosto.

Verdade que eu já estava predisposto à emoção por causa de Lindsay Lohan. Coisa boa testemunhar uma segunda chance! Depois de um período de muita turbulência na carreira e na vida pessoal, a atriz de 39 anos mostra que ainda tem o carisma que nos conquistou quando era criança ou adolescente, graças a filmes como Operação Cupido (1998), Meninas Malvadas (2004) e o próprio Sexta-Feira Muito Louca.

Mas em dado momento, enquanto as irmãs a contragosto descobrem o quanto seus pais realmente se amam, por exemplo, ou nas cenas em que as personagens desabafam sobre seus medos, seus conflitos, seus traumas e seus sonhos, aconteceu algo estranho comigo no cinema. Uma coisa muito louca. Foi como se eu tivesse trocado de corpo com qualquer uma das atrizes, nitidamente sintonizadas e dedicadas a dar o seu melhor, seja cômica ou dramaticamente. 

Se até então eu assistia ao filme com certo distanciamento, achando graça mas jamais entusiasmado, de repente me senti muito próximo daquelas dores e daqueles desejos. Os olhares umas para as outras de Tess, Anna, Harper e Lily me atingiram em cheio. Suas emoções eram as minhas também.

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