De barba e cabelo grisalhos, semblante abatido e longe do brilho que um dia o consagrou como ícone do hip-hop norte-americano, Sean ‘Diddy’ Combs surgiu, irreconhecível, nas imagens captadas após os primeiros dias na prisão federal de Fort Dix, em Nova Jérsia.

As fotografias, divulgadas pela CBS News, mostram um homem envelhecido, bem distante da figura exuberante que frequentava as festas mais exclusivas de Hollywood.

A nova vida na prisão

Transferido para aquele estabelecimento prisional a 30 de outubro, Diddy cumpre uma pena de quatro anos e dois meses de prisão, depois de ter sido condenado por dois crimes relacionados com prostituição.

Longe dos holofotes, o recluso número 37452-054 assumiu agora o papel de ajudante do capelão da prisão, uma função cobiçada entre os reclusos, que inclui organizar a biblioteca religiosa, limpar o escritório e ajudar nos registos administrativos.

Paralelamente, o rapper participa num programa intensivo de reabilitação contra as dependência, imposto pela instituição.

Mas nem a nova rotina o poupou a sanções. Segundo a CBS News, Combs terá realizado uma chamada telefónica não autorizada, alegando tratar-se de um contacto com a sua equipa jurídica para discutir uma declaração ao jornal ‘The New York Times’.

Esta infração poderá custar-lhe privilégios de 90 dias de privilégios telefónicos e 90 dias de privilégios de acesso ao refeitório

Um caso mediático em Hollywood

O caso de Diddy tornou-se um fenómeno mediático global, não apenas pela dimensão do artista, mas pelas denúncias que surgiram durante o julgamento, iniciado em maio de 2025.

Os processos deram ‘voz’ a duas décadas de alegadas agressões, manipulação psicológica e abuso sexual. Entre as vítimas estão a cantora Cassie Ventura, ex-namorada do músico, e outra mulher identificada apenas como ‘Jane’.

Embora absolvido das acusações mais graves, tráfico sexual e conspiração para extorsão, Diddy foi condenado a 50 meses de prisão e ao pagamento de meio milhão de dólares. A pena ficou muito aquém do pedido da acusação, que exigia 11 anos de prisão.

“Não tenho ninguém para culpar além de mim próprio”, declarou, em lágrimas, no tribunal de Nova Iorque, pedindo desculpa às vítimas, à família e aos filhos: “Perdi a liberdade, os meus negócios, a minha carreira e destruí a minha reputação.”

Sean 'Diddy' Combs emocionou-se quando os filhos subiram ao púlpito para prestar declarações durante a audiência de leitura da sentença, depois de o magnata da música ter sido condenado por transportar prostitutas para participarem em atos sexuais sob o efeito de drogas, em Nova Iorque, a 3 de outubro de 2025, segundo mostra um esboço da sala de audiências.

Jane Rosenberg / REUTERS

Por dentro de um submundo

As investigações revelaram um submundo de festas privadas, drogas e sexo, que se prolongou durante duas décadas.

Uma realidade retratada em depoimentos que descrevem os chamados freak-offs, maratonas sexuais em que mulheres eram coagidas a manter relações sob o efeito de estupefacientes.

De acordo com a acusação, Diddy não apenas participava como coordenava essas “cenas”, por vezes registadas em vídeo.

Os fantasmas do passado

A indústria musical norte-americana, que em grande parte escapou à vaga do movimento #MeToo, vê-se agora obrigada a enfrentar os seus fantasmas.

Depois de R. Kelly, condenado a 30 anos de prisão, o nome de Diddy juntou-se à lista de artistas que foram condenados pelos seus atos no passado.

R. Kelly e P. Diddy durante a conferência de imprensa da apresentação do álbum

Theo Wargo // Getty Images