Há problemas graves com as reservas de água
Teerão pode estar perto “de se tornar inabitável” caso a seca que assola o país continue, avança a Reuters esta quarta-feira. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, alerta que, se não chover até dezembro, o governo tem de começar a racionar a água – “e, mesmo que a racionemos, ficaremos sem água se não chover”. Nesse caso, “os cidadãos têm de ser retirados de Teerão”, afirmou Pezeshkian, a 6 de novembro.
A precipitação do ano passado no Irão ficou 40% abaixo da média de 57 anos registada no país, avança o diretor do Instituto de Investigação da Água do Irão, Mohammadreza Kavianpour. Com as previsões da precipitação a apontar para um cenário pouco favorável até ao final de dezembro, Pezeshkian apelou à prudência no consumo, tendo em conta que em julho 70% dos residentes de Teerão consumiam mais do que os 130 litros padrão por dia.
Os reservatórios da capital, que juntos podiam armazenar quase 500 milhões de metros cúbicos, albergam atualmente 250 milhões, metade da capacidade total. O diretor da Companhia Regional de Água de Teerão, Behzad Parsa, sublinha que, com as taxas de consumo atuais, os depósitos correm o risco de secar em duas semanas. Numa tentativa de dar resposta à escassez de água, a Companhia Nacional de Água e Esgoto do Irão admitiu recorrer à redução da pressão da água durante a noite em Teerão, podendo mesmo cair para zero em alguns distritos, informaram os meis de comunicação social locais.
“Eram cerca de 22:00 e a água só voltou às 6:00”, relata Mahnaz, uma das pessoas cujas torneiras secaram durante a noite sem aviso. A crise hídrica tem afetado principalmente a capital, mas os seus efeitos fazem-se sentir por todo o país e os relatos multiplicam-se. “A pressão é tão baixa que, literalmente, não temos água durante o dia. Instalei tanques de água, mas durante mais quanto tempo é que podemos continuar assim?”, afirma Reza, morador na cidade de Mashhad.
O governo de Pezeshkian atribuiu a crise aos baixos níveis de pluviosidade e às alterações climáticas, mas também a políticas dos governos anteriores, que incluem a construção excessiva de barragens, perfuração ilegal de poços e práticas agrícolas ineficientes.
Para os iranianos, este problema soma-se à escassez recorrente de eletricidade e gás que também afeta o seu dia-a-dia: “É uma dificuldade atrás de outra – num dia não há água, no outro não há eletricidade”.
A crise hídrica tem vindo a ser agravada pelo aumento das temperaturas, que contribuem para a aceleração do processo de evaporação das águas subterrâneas. O desfecho mais drástico, já mencionado pelo presidente do Irão, pode implicar a evacuação dos mais de dez milhões de habitantes que vivem na capital.