A Europa quer democratizar o carro elétrico e já prepara uma nova categoria de veículos acessíveis, os chamados E-Cars. Mas a Renault desafia a proposta e lança uma ideia ousada: não é preciso reinventar o setor, apenas libertá-lo das amarras de uma regulamentação que o próprio continente criou.

Imagem Renault Twingo como resposta aos E-Cars

Os pedidos do setor automóvel europeu parecem ter surtido efeito na Comissão e, finalmente, teremos os tão reclamados E-Cars nas estradas da nossa região em muito pouco tempo. É o que a indústria precisa para voltar a oferecer aos condutores carros acessíveis, abaixo dos 20 mil euros, mais concretamente, entre os 15 e os 17 mil euros.

Contudo, talvez esta medida não seja realmente necessária. Pelo menos é assim que a Renault o vê. Durante a recente apresentação do novo Twingo, os responsáveis da marca propuseram uma alternativa, e o próprio Twingo serve de exemplo das enormes possibilidades que as marcas têm diante de si no mercado dos veículos elétricos urbanos.

Porque criar mais uma categoria?

A proposta dos E-Cars nasce com o objetivo de criar uma regulamentação mais flexível em matéria de segurança e emissões de CO₂, permitindo aos fabricantes desenvolver carros mais baratos, exclusivamente elétricos e, além disso, produzidos localmente.

A situação atual resulta da escalada de preços dos últimos anos, que tornou os carros pequenos pouco rentáveis para as marcas.

Os chamados E-Cars seriam direcionados sobretudo para o uso urbano e segmentos pequenos (A e B), hoje com menor aposta por parte das devido à falta de rentabilidade.

O excesso de regulamentação europeia, sobretudo nos capítulos das emissões poluentes e da segurança (com benefícios inegáveis), acabou por condenar os veículos dos segmentos A e B, amplamente populares antes da pandemia.

O que são os E-Cars?
Os E-Cars são uma nova categoria proposta de carros elétricos acessíveis, pensada para revitalizar o mercado europeu. A ideia é permitir veículos 100% elétricos, com regras mais flexíveis e preços entre 15.000 e 20.000 euros, focados sobretudo no uso urbano e na produção local.

Então, porque não travar este caminho imparável de novas regras?

Parece impossível: até ao final da década estão previstas 107 novas normas para o setor, como reconheceu recentemente o CEO do Grupo Renault, François Provost. Mas é precisamente isso que a empresa francesa propõe: fabricar veículos economicamente viáveis e mais baratos, mas congelando a regulamentação atual, pelo menos para este tipo de modelos.

Não peço que se eliminem as regulações, apenas peço que tenhamos 10 ou 15 anos sem novas regras.

E o que Provost diz faz todo o sentido, já que a indústria demonstrou, em poucos anos, uma enorme capacidade de avanço no desenvolvimento de novos carros, baterias e motores.

Se as marcas e os fornecedores tivessem esse “tempo extra”, poderiam encontrar formas de reduzir custos e preços nos veículos até 4,2 metros, precisamente o tipo de automóveis que os E-Cars pretendem representar.

O importante é que o carro seja mais acessível. Para isso, há duas soluções: ou se cria uma nova categoria com menos restrições, prestações, sistemas ADAS, etc., ou se suspende a regulamentação.

Entre as duas, preferimos suspender a regulamentação na nossa gama atual, para poder trabalhar melhor o carro, reduzir ainda mais os custos e, consequentemente, baixar o preço de venda.

Afirmou o diretor da Renault, Fabrice Cambolive.

Será demasiado tarde?

Tudo isto surge num momento crítico para o setor, que ainda está três milhões de unidades abaixo dos níveis de venda de carros novos registados antes da pandemia. A concorrência das marcas chinesas está a crescer e muitos postos de trabalho nas fábricas europeias encontram-se em risco.

Porque não congelar a regulamentação nos próximos anos e dar-nos tempo para trabalhar no preço do carro?

Propõe a Renault.

Resta agora saber o que a Comissão Europeia apresentará e de que forma as marcas poderão adaptar-se a estas novas regras.

A marca do losango, que já conseguiu reduzir os custos do novo Twingo em 25%, acredita poder chegar aos 40% se a regulamentação for ajustada. O próprio Twingo, os R5 e R4 elétricos, o Mégane, bem como o VW ID.Polo, o CUPRA Raval, o Skoda Epiq, o FIAT Grande Panda e o futuro Dacia Spring 2, poderão sair amplamente beneficiados.