Um sistema “híbrido”, assente em serviço militar voluntário mas com exames médicos obrigatórios e uma opção de obrigatoriedade caso o número de voluntários seja abaixo do desejado, foi o modo que a coligação no Governo da Alemanha encontrou para avançar com uma proposta de lei com novas regras para o serviço militar.

Os conservadores do chanceler Friedrich Merz (CDU/CSU) queriam ter um mecanismo que tivesse explícita uma obrigatoriedade que entraria em vigor de modo automático caso os números de voluntários não aumentassem para o desejado pelas autoridades, propondo um sistema de “lotaria” que escolheria quem seria obrigado a fazer o serviço militar.

Os sociais-democratas (SPD), do ministro da defesa Boris Pistorius, preferiam que não houvesse automatismos na passagem para uma obrigatoriedade e recusavam totalmente a ideia da “lotaria”.

O compromisso, segundo o diário online Politico, foi ter registo e avaliação médica obrigatórios, mas deixar a obrigatoriedade de serviço sujeita a nova decisão parlamentar, com a agência DPA a registar o fim da ideia da “lotaria” (ambas agradam ao SPD). Já o jornal Die Zeit diz que o facto de serem incluídas metas a atingir e um acompanhamento de perto para que caso não sejam conseguidas se introduza a obrigatoriedade é importante para a CDU/CSU.

Em relação ao que tinha sido antes proposto, uma das principais mudanças é a antecipação do exame médico obrigatório para os homens com mais de 18 anos e a indicação da disponibilidade para o serviço, para que seja possível às autoridades ter uma noção de quem está em condições e estaria disposto a servir nas Forças Armadas.

Face à situação actual, com a guerra da Rússia na Ucrânia e da posição dos EUA sob Donald Trump, Merz prometeu transformar as Forças Armadas alemãs no Exército convencional mais forte da Europa, e o Governo quer passar de 182 mil militares para cerca de 260 mil nas suas Forças Armadas, com outros 200 mil reservistas. Os casos recentes de drones em aeroportos europeus que têm levado a interrupções no tráfego aéreo e têm sido apontados à Rússia são mais um motivo de preocupação.

Se os dois partidos da coligação concordam na necessidade de mais pessoas nas Forças Armadas, a divisão no modo de como o conseguir durava desde Agosto, quando foi apresentada a primeira proposta.

Os sociais-democratas preferiam condições mais aliciantes e a argumentavam que o recrutamento obrigatório não resolve o problema, porque é necessário também reter os militares e não apenas ter recrutas. Os conservadores diziam que sem metas e obrigatoriedade (que acabou em 2011) não iria ser possível ter o aumento desejado a tempo.

O jornal Die Zeit conclui que a proposta “adia” a questão mais controversa, a obrigatoriedade do serviço, numa análise do jornalista Michael Schlieben.

A falta de um elemento de obrigação foi criticada por exemplo por um comentário do publisher do Frankfurter Allgemeine Zeitung, em que Berthold Kohler critica a lei por não ir “suficientemente longe”, ou seja: “não é uma reforma à altura da situação”.