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Donald Trump, presidente dos EUA, assina acordo que põe fim à paralisação do Governo
Governo dos EUA volta a funcionar após assinatura do presidente, que deixou uns “recados”, no mínimo, questionáveis.
Praticamente um mês e meio depois, o Governo federal dos EUA voltou a funcionar nesta quinta-feira.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou a proposta de lei aprovada pelo Congresso que põe fim ao encerramento por 43 dias da actividade administrativa do governo, o mais longo da história do país.
Na cerimónia de assinatura do documento, Trump deixou uns recados, sobretudo para o Partido Democrata.
Enquanto agradecia aos senadores democratas que mudaram de opinião e votaram ao lado dos republicanos, garantiu que não vai permitir outra “extorsão”.
Donald Trump referia-se à sua teoria: os representantes do rival Partido Democrata foram os grandes responsáveis por esta paralisação, por esta dificuldade em chegar a um acordo porque, alega, tinham uma exigência na Saúde para imigrantes ilegais.
José Gomes André olha para este discurso como (mais) uma “tentativa de controlar a narrativa política”.
“Vivemos numa altura em que a discussão já muito poucas vezes tem a ver com análise racional e objectiva de quem tem as responsabilidades políticas – tem a ver com a construção de uma história”, lembra o comentador na RTP.
Trump, nesse aspecto, é de facto “um mestre”, descreve.
“Consegue passar uma convicção que os democratas foram directamente responsáveis (pela paralisação) porque insistiam na importância de haver uma parte de um pacote orçamental para proteger imigrantes ilegais, nomeadamente na área da Saúde”.
De facto, ainda em Setembro, Donald Trump escreveu na Truth Social: “Os democratas querem que os imigrantes ilegais, muitos deles criminosos violentos, recebam assistência médica gratuita”.
A CNN já tinha desmentido o presidente dos EUA. O que os democratas exigiam era manter subsídios federais mais generosos para ajudar os americanos a suportar os custos dos planos de saúde do Obamacare; e para reverter os profundos cortes no Medicaid e noutros programas de saúde incluídos no amplo pacote de políticas internas de Trump. Nenhuma proposta garantiria cobertura de saúde aos imigrantes ilegais – porque esses imigrantes nem sequer são elegíveis para nenhum dos dois programas.
“Nada disto é verdadeiro. Portanto, é muito difícil comentar uma estratégia de fundo quanto a uma discussão objetiva. Porque ela não existe. Trata-se simplesmente de insistir numa narrativa que, feliz ou infelizmente, julgo que infelizmente, continua a ser popular nos EUA”, continua José Gomes André.
Num momento em que os republicanos têm uma maioria larga nos vários órgãos federais, tentar culpar os democratas é “parte essencial dessa narrativa”, conclui o especialista em política internacional.
Nuno Teixeira da Silva, ZAP // Lusa