Os planos dos Estados Unidos para a Faixa de Gaza continuam a ser “dinâmicos” ou “fluidos”, como disse uma fonte norte-americana ao diário britânico The Guardian, acrescentando que “poucas pessoas” sabem de facto em que pé estão, e por ter ideias consideradas por outros como “delirantes” – por exemplo a de uma força de estabilização internacional ter uma contribuição substancial de forças da União Europeia, segundo uma das últimas versões do plano relatada pelo jornal.
Apesar de mudanças em alguma forma, continua a haver, na base dos planos dos EUA, uma ideia de divisão da Faixa de Gaza, um modo como parece ser vista a possibilidade de reconstruir e desenvolver uma parte do território, permitindo a entrada a apenas palestinianos sem ligação ao Hamas (e partindo do princípio de que estes o quereriam) e deixar a outra ao abandono, com o objectivo de fomentar assim uma alternativa ao poder do Hamas.
Esta ideia é vista como potencialmente perigosa pelo analista israelita especialista em movimentos palestinianos Michael Milshtein, já que “é uma tentativa de manipular mentes, vidas e a própria realidade, por isso é provável que acabe de um modo muito triste, e espero que não trágico”, disse à revista New Yorker.
E faz ainda, diz o Guardian, lembrar outras experiências falhadas norte-americanas, como em Helmand, no Afeganistão, onde tentou que esta província fosse um modelo que convencesse civis. Isso nunca aconteceu, e cerca de uma década depois, os taliban voltaram ao poder no Afeganistão.
Isto acontece numa altura em que o Hamas parece solidificar o seu controlo do território de onde Israel retirou (as forças israelitas continuam em 53% do território da Faixa de Gaza e, segundo a BBC, desde o início do cessar-fogo há pouco mais de um mês têm levado a cabo demolições de cerca de 1500 edifícios).
Depois de, no início do cessar-fogo, se tornar visível nas ruas, para evitar o caos, o Hamas combateu grupos que Israel tinha apoiado, inclusive com armas, levando a cabo execuções públicas.
Agora, estaria a intervir para controlar aumento de preços nos mercados – a ajuda internacional que chega ainda não é suficiente e os preços nos mercados voltaram a subir, e o movimento estaria a ameaçar comerciantes que não os baixassem, segundo a agência Reuters.
O diário norte-americano The New York Times noticiava entretanto que o enviado especial de Trump para a região, Steve Witkoff, se iria reunir directamente com representantes do Hamas para discutir o acordo de cessar-fogo.
Já não é a primeira vez que Witkoff e o principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya, estão cara a cara, mas a primeira vez foi fruto de um encontro breve, não planeado, durante as negociações para o cessar-fogo em Sharm el-Sheikh (chegou a ser considerado que, além da pressão dos aliados, a reunião directa entre responsáveis dos EUA e do Hamas foi o que levou o movimento a aceitar o acordo).
O cessar-fogo continua frágil e a Faixa de Gaza numa situação muito precária, com falta de comida e, desde as chuvas torrenciais da madrugada de sexta-feira, com tendas inundadas a falta de abrigo para a população, na sua maioria deslocada.
Obstáculos para os EUA no Conselho de Segurança
Os Estados Unidos estão a discutir no Conselho de Segurança da ONU um projecto de resolução que pudesse levar à deslocação de uma força internacional de estabilização para a Faixa de Gaza, mas vários países têm dito que não irão contribuir enquanto o quadro de actuação não ficar mais bem definido – nenhum país quer ter a missão de desarmar o Hamas, o que o movimento islamista palestiniano tem recusado fazer.
Enquanto a primeira proposta de resolução era baseada no plano de vinte pontos de Donald Trump e a sua aprovação apresentada como a alternativa a um regresso da guerra a Gaza, os Estados Unidos terão feito algumas alterações depois de vários países, incluindo europeus, dizerem querer que haja um maior compromisso com um Estado palestiniano, e ainda uma maior clareza na definição da entidade internacional que iria supervisionar o governo da Faixa de Gaza.
Os Estados Unidos fizeram uma pequena mudança, incluindo um acrescento: que após uma reforma completa da Autoridade Palestiniana, poderá haver condições para “uma via para a auto-determinação e um Estado palestiniano”, cita o New York Times.
Washington esperaria que a resolução fosse aprovada no início da próxima semana, segundo o Guardian, mas o New York Times relata que a Rússia terá apresentado a sua própria proposta de resolução, citando três diplomatas, com uma linguagem clara sobre uma solução de dois Estados e da não-separação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.