Taichi Kaizuka / Mainichi; Tend

A enorme população de ursos do nordeste do Japão está com fome — e começou a invadir zonas residenciais. Os ataques estão a semear o pânico e já fizeram 13 vítimas mortais.

O governo do Japão anunciou esta sexta-feira um plano que “tem como objetivo reduzir a sobrepopulação de ursos, afastando-os das áreas habitadas e intensificando os esforços de captura”, declarou o secretário-geral do governo, Minoru Kihara, numa conferência de imprensa.

O plano inclui um esforço para recrutar antigos agentes da polícia reformados, cuja experiência em porte  e uso de armas de fogo é considerada útil no esforço de contenção da população de ursos, detalhou Kihara, citado pelo Japan Times.

Nos últimos meses tem havido relatos quase diários de ataques de ursos, que rondam áreas residenciais, entram em habitações, destroem supermercados e aproximam-se de escolas.

Estes ataques, que já fizeram 13 vítimas mortais e mais de 100 feridos, têm semeando o pânico entre a população, especialmente nas regiões de Akita e Iwate, no nordeste do país, onde ocorreram a maioria dos ataques.

Keiji Minatoya, um pasteleiro de 68 anos que foi atacado na garagem de casa, conta à AFP que se lembra de ter lutado para proteger a cabeça antes de conseguir refugiar-se na cozinha. “Eu só pensava: vou morrer assim”.

Segundo a agência AFP, alguns municípios já mobilizaram a polícia de choque para apoiar os caçadores locais encarregues de capturar e abater os ursos., que podem cegar a pesar mais de 500 kg e correr mais do que um humano.

Os polícias japoneses, que habitualmente estão equipados com espingardas, estão desde quinta-feira autorizados a abater ursos, depois de as rígidas normas do país sobre armas de fogo terem sido relaxadas.

O Exército foi também mobilizado para as regiões do nordeste do país, mas os soldados não estão armados; estão equipados com sprays anti-ursos, bastões, escudos, óculos de proteção, coletes à prova de bala e lançadores de redes, ajudarão a transportar armadilhas para ursos, caçadores e animais capturados.

A escassez de alimentos, em particular de bolota, levou este ano os ursos, cuja população está em plena expansão no arquipélago, a aventurarem-se nas cidades, enquanto o despovoamento das áreas rurais aumenta as fronteiras entre florestas e áreas urbanas, segundo os investigadores.

Segundo a AP News, a governo estima que a população total de ursos seja atualmente superior a 54.000 animais. “O tamanho da população excede a capacidade das montanhas”, explica à AFP Naoki Ohnishi, investigador do Instituto de Pesquisa Florestal do Japão.

“Todos os dias, os ursos invadem áreas residenciais na região e o seu impacto está a expandir-se”, disse o vice-secretário do Ministério do Ambiente do Japão, Fumitoshi Sato. “A resposta ao problema dos ursos é uma questão urgente”.

O inverno vai agora trazer algum alívio, porque os ursos entram em hibernação, o que acabará por reduzir as incursões — mas a ameaça persiste.

É como viver em num safári de ursos”, confessa Hajime Nakae, professor de Medicina no hospital universitário de Akita, que há 30 anos trata ferimentos causados por esses animais. “Estamos a assistir a uma catástrofe”.


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