O bordado de Timbaúba dos Batistas, cidade do interior do Rio Grande do Norte, ganhou o palco do Grammy Latino, realizado nesta quinta (13) em Las Vegas, nos Estados Unidos. João Gomes, junto com Mestrinho e Jota.Pê, levou a estatueta por Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa, com o projeto “Dominguinho”. Além de agradecer e convidar todos a conhecer a cultura nordestina, ele vestiu a tradição potiguar em um terno de linho branco com delicados bordados de Timbaúba dos Batistas.

A roupa foi produzida em parceria com a estilista Helô Rocha, Pedro Sales e as Lojas Riachuelo. A premiação, além de exaltar e reconhecer a grandeza do trabalho de João Gomes e da cultura nordestina, projetou os bordados de Timbaúba dos Batistas para um cenário internacional, casando com o sonho das artesãs que se reúnem na Casa das Bordadeiras de exportar o trabalho do Seridó para o mundo.

As bordadeiras perecem ter pé quente, ou melhor, mãos quentes. Elas já haviam bordado o vestido da primeira-dama, Janja, durante a posse do presidente Lula em janeiro de 2023, e foram as responsáveis pela arte nos uniformes dos atletas brasileiros durante as Olimpíadas de 2024.

Em 2025, o grupo bordou a camisa que o presidente Lula usou na inauguração da sonhada Barragem de Oiticica, responsável por matar a sede de mais de 300 mil moradores do Seridó. A obra, que começou em 2013, só foi entregue 12 anos depois. Os bordados que decoraram a camisa narram, com beleza, delicadeza e poesia, a história da sonhada barragem através de elementos como a vegetação da Caatinga, a parede de concreto do reservatório, o sangradouro por onde escoa a água, as agrovilas construídas para os moradores que foram deslocados para a construção da obra e a árvore da Timbaúba, muito comum na região, conhecida pela força de que também são feitos os sertanejos.

Janja subindo a rampa ao lado de Lula e Janja com a cadelinha Resistência | Foto: Agência Senado/ Reuters

Bordado aplicado em roupas dos atletas brasileiros I Foto: divulgação Sebrae/ RN

Elementos usados nos bordados contam a história da Barragem de Oiticica. Foto: Vlademir Alexandre

Timbaúba dos Batistas fica a 304 quilômetros de Natal. A cidade, de pouco mais de 2.400 habitantes, possui mais de 800 profissionais artesãs registradas, com as bordadeiras representando um terço de toda a comunidade local.

Tradição

A tradição vem de longe, remetendo à história da colonização portuguesa que se instalou na região do Seridó ainda no século XVIII. Os principais elementos presentes nas peças produzidas em Timbaúba dos Batistas aludem aos bordados que, ainda hoje, são feitos na Ilha da Madeira: flores e arabescos desenhados em tons claros sobre tecidos de algodão e linho.

Inclusão social e preservação cultural

Desde 2003, as artesãs de Timbaúba dos Batistas fazem parte da Cooperativa de Bordadeiras, o que permitiu à comunidade ampliar suas atividades e participar de grandes contratos e licitações. Além da importância econômica, o trabalho das bordadeiras é um exemplo de inclusão social, uma vez que cerca de um terço da população domina as técnicas de bordado, tornando essa arte a principal fonte de renda do município.

De acordo com a Agência Sebrae, o grupo de bordadeiras já foi reconhecido duas vezes com o prêmio TOP 100 de Artesanato, concedido pelo Sebrae, que premia as melhores práticas de cooperativas no Brasil. Em 2021, a região conquistou o selo de Indicação Geográfica (IG), que atesta a qualidade e origem dos bordados produzidos no Seridó.

Além disso, a cooperativa desempenha um papel vital na preservação dessa tradição, promovendo programas de qualificação e oficinas para jovens, garantindo que a arte do bordado continue viva nas gerações futuras.

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