A China está a desaconselhar os cidadãos do país a viajarem para o Japão, na sequência das declarações da primeira-ministra nipónica, Sanae Takaichi, sobre uma eventual intervenção de Tóquio num conflito no estreito de Taiwan.
“Recentemente, os líderes japoneses fizeram declarações abertamente provocadoras em relação a Taiwan, prejudicando gravemente o clima de intercâmbio entre os povos”, declarou, na sexta-feira à noite, a embaixada da China em Tóquio nas redes sociais.
“O Ministério dos Negócios Estrangeiros e a embaixada e consulados da China no Japão lembram solenemente aos cidadãos chineses que evitem viajar para o Japão num futuro próximo”, acrescenta-se na declaração.
Já este sábado, segundo o South China Morning Post, as companhias aéreas chinesas Air China, China Southern e China Eastern anunciaram que vão permitir o reembolso ou a alteração gratuita dos voos para os cidadãos do país que adquiriram bilhetes para viajar para o Japão até ao dia 31 de Dezembro.
A emissora pública japonesa NHK cita números oficiais que mostram que quase 7,5 milhões de cidadãos chineses visitaram o Japão entre Janeiro e Setembro deste, sendo a China o país ou região do mundo que leva mais turistas até ao país nipónico e por larga vantagem.
A agência noticiosa japonesa Kyodo noticia este sábado que Minoru Kihara, chefe de gabinete do Governo do Japão, já pediu às autoridades chinesas para tomarem “medidas adequadas” para reverter os avisos de sexta-feira.
Há uma semana, a nova primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, afirmou no Parlamento que, se uma situação de emergência em Taiwan implicasse “o envio de navios de guerra e o recurso à força, isso poderia constituir uma ameaça à sobrevivência do Japão”. “Temos de considerar o pior cenário”, afirmou.
As declarações foram amplamente interpretadas como uma indicação de que um ataque a Taiwan poderia justificar o apoio militar japonês à ilha reivindicada por Pequim como uma província chinesa.
De acordo com a legislação japonesa, o país só pode intervir militarmente em determinadas condições, nomeadamente em caso de ameaça existencial – Taiwan fica apenas a 100 quilómetros da ilha japonesa mais próxima.
Na quinta-feira Pequim convocou o embaixador do Japão, considerando “extremamente graves” as declarações de Sanae Takaichi.
Por seu lado, o Japão disse ter feito o mesmo com o embaixador da China, após uma ameaça considerada “extremamente inadequada” por parte do cônsul-geral da China em Osaca, Xue Jian.
Numa mensagem entretanto apagada da rede social X, Xue ameaçou “cortar a cabeça suja sem a menor hesitação”, citando um artigo que relatava a intervenção de Takaichi.
Tóquio afirmou na sexta-feira que a posição sobre Taiwan permanecia inalterada e defendeu “a paz e a estabilidade”.
Taiwan é uma ilha com Governo próprio desde 1949, que a China considera uma “província rebelde” e parte inalienável de território chinês, tendo ameaçado várias vezes recorrer à força para alcançar a “reunificação”.
Apesar de ter reconhecido a República Popular da China como o único Governo legítimo em 1972, o Japão mantém relações não-oficiais com Taipé, e já o antigo primeiro-ministro Shinzo Abe (1954-2022) defendeu publicamente que qualquer invasão da ilha justificaria uma resposta militar japonesa, no quadro do acordo de segurança com os Estados Unidos.