Embora a inteligência artificial continue a deslumbrar com seus feitos e manchetes, nem todos nos bastidores compartilham o mesmo entusiasmo pelo que está por vir. Em uma rara aparição pública, um dos idealizadores da DeepSeek — a promissora empresa chinesa de IA — fez um alerta bastante direto: o futuro do trabalho (e da sociedade) pode estar em risco. E não daqui a séculos, mas mais cedo do que gostaríamos.

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DeepSeek quebra o silêncio… e não com boas notícias

Durante a Conferência Mundial da Internet em Wuzhen, na China, Chen Deli, pesquisador sênior da DeepSeek, subiu ao palco ao lado de representantes de outras empresas de tecnologia conhecidas como os “seis pequenos dragões” da IA. Sua intervenção? Uma dose de realismo sobre o que a revolução inteligente pode trazer.

Chen não poupou palavras: nos próximos 5 a 10 anos, a IA poderá substituir uma parcela significativa do trabalho humano. E nos 10 a 20 anos seguintes, praticamente todo ele. Ele esclareceu, no entanto, que não é contra o desenvolvimento tecnológico. Na verdade, ele se considera “extremamente otimista” em relação à evolução da IA. O problema, segundo ele, é o impacto social que esse desenvolvimento pode ter se não for gerenciado adequadamente.

“A sociedade pode enfrentar um enorme desafio. As empresas de tecnologia devem assumir o papel de defensoras”, afirmou Chen.

De fenômeno global a símbolo nacional

Desde sua ascensão explosiva em janeiro — quando a DeepSeek revelou um modelo de IA de código aberto que superou gigantes americanos a uma fração do custo — a empresa se tornou motivo de orgulho nacional na China.

O próprio Xi Jinping recebeu seu CEO, Liang Wenfeng, em uma reunião televisionada com líderes empresariais. Mas, fora desse momento midiático, a DeepSeek manteve um perfil discreto: sem grandes atualizações, sem presença em conferências importantes e com pouca interação pública.

Isso não impediu que a empresa permanecesse proeminente. Seus anúncios, embora pouco frequentes, continuam a impactar o setor. Em setembro, por exemplo, lançaram seu modelo V3, descrito como mais eficiente e capaz de processar textos longos.

Além disso, em agosto, um novo modelo otimizado para chips fabricados na China impulsionou as ações de empresas locais como Cambricon e Huawei. Otimismo tecnológico, mas pessimismo social?

A DeepSeek tornou-se um ator fundamental no ecossistema de IA da China e uma parte essencial de sua estratégia para reduzir a dependência tecnológica de países estrangeiros.

No entanto, as palavras de Chen Deli refletem uma tensão crescente: o progresso é inevitável, mas também o impacto social que pode deixar milhões de trabalhadores para trás se nenhuma ação for tomada.

Seu apelo para que as empresas se tornem “defensoras” da sociedade é significativo. Implica uma visão em que a responsabilidade recai não apenas sobre os governos, mas também sobre aqueles que desenvolvem a tecnologia.

Estamos preparados para uma IA que faz tudo?

A intervenção de Chen deixou claro que a IA não é mais um experimento de laboratório: é uma realidade que avança a passos largos. O que antes era uma promessa futurista agora ameaça redefinir — e talvez desestabilizar — o mundo do trabalho.

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A DeepSeek, apesar do sigilo, trouxe o debate de volta à tona: qual é o verdadeiro custo do progresso? E estamos dispostos a pagá-lo? Porque, embora os modelos possam ser treinados mais rapidamente e com menos energia, os dilemas humanos não são resolvidos com um simples comando.

E como diria um programador sábio: com grande poder computacional… vem grande responsabilidade.