O Universo pode estar se apagando aos poucos e se tornando mais frio desde já. Estudo mostra que o auge de formação estelar já passou. Crédito: JWST/ESAO Universo pode estar se apagando aos poucos e se tornando mais frio desde já. Estudo mostra que o auge de formação estelar já passou. Crédito: JWST/ESA Roberta Duarte Roberta Duarte 16/11/2025 09:21 7 min

O Universo passou por um boom de formação estelar há cerca de 10 bilhões de anos atrás e, por isso, esse período é conhecido por astrônomos como a época do redshift 2 ou meio-dia cósmico. Nessa época, as galáxias estavam formando estrelas em um ritmo até 10 vezes maior do que vemos no Universo atual. Esse pico ainda é um mistério e ainda questionamos o motivo disso ter acontecido naquela época. Uma das possíveis respostas é a quantidade de colisão de galáxias que teve.

Atualmente, vivemos na chamada Era das Estrelas, em que a formação estelar ainda ocorre de forma significativa. No entanto, um novo estudo com base nos dados do Euclid mostra que essa produção está desacelerando continuamente. Apesar de as galáxias ainda criarem estrelas, o ritmo diminui consideravelmente a cada bilhão de anos. Isso indica que estamos entrando em uma fase de transição em que a formação estelar começa a perder força.

Neutrinos podem afetar o resultado de uma colisão de estrelas de nêutrons

A colaboração Euclid divulgou uma série de artigos científicos onde analisaram diferentes propriedades da distribuição de galáxias e os componentes que constituem uma galáxia. Eles analisaram grandes amostras de galáxias e descobriram que elas estão formando cada vez menos estrelas porque possuem quantidades menores de gás frio e poeira. À medida que esses reservatórios se esgotam, o Universo forma cada vez menores estrelas e o futuro fica mais frio.

A Era das Estrelas

Atualmente, nós vivemos em uma era do Universo conhecida como a Era das Estrelas que começou quando o Universo tinha cerca de 100 a 200 milhões de anos. Essa era deu início quando as primeiras estrelas, chamadas de estrelas de População III, se formaram. Essas estrelas eram extremamente massivas e formadas a partir de hidrogênio e hélio. A partir delas, o Universo passou a produzir os primeiros elementos pesados e uma nova geração de estrelas.

As primeiras galáxias foram essenciais para a formação de elementos mais pesados do que hidrogênio e hélio.

Essa era que vivemos agora não será eterna. Ela terminará quando o reservatório de gás frio das galáxias for completamente consumido ou aquecido. Modelos cosmológicos indicam que, conforme a expansão do Universo acelera e a densidade média de matéria diminui, o gás disponível continuará rareando impedindo a formação de estrelas. Após isso, o Universo entrará na chamada Era da Degenerescência, dominada por anãs brancas, estrelas de nêutrons e buracos negros.

Como estrelas se formam?

Estrelas se formam quando regiões densas de gás e poeira interestelar sofrem colapso gravitacional. Para que esse processo ocorra, a gravidade precisa superar a pressão interna do gás, fazendo com que o material se comprima cada vez mais. À medida que a nuvem colapsa, ela fragmenta em núcleos menores, tornando-se protoestrelas. Durante o colapso, a pressão no interior aumenta consideravelmente, causando o aumento da temperatura do núcleo até atingir valores suficientes para iniciar as reações de fusão nuclear.

Esse processo só acontece quando há gás frio disponível porque a baixa temperatura reduz a pressão térmica que resiste ao colapso gravitacional. Quanto mais frio o gás, mais facilmente ele pode ser comprimido e mais massa pode se acumular antes que a pressão impeça o colapso. Em ambientes onde o gás está quente, disperso ou ionizado, a formação estelar se torna muito menos eficiente.

Papel da poeira

Essas nuvens podem conter poeira também e quando o gás frio colapsa formando estrelas, essas estrelas jovens acabam aquecendo a poeira. Galáxias com altas taxas de formação estelar tendem a apresentar poeira mais quente, já que essas temperaturas refletem a presença de estrelas massivas emitindo radiação que é, muitas vezes, intensa. Então estudar a temperatura do gás e da poeira nas galáxias indicam como é o processo de formação estelar ali.

As análises foram feitas usando dados do telescópio Euclid que analisou mais de 2 milhões de galáxias e suas componentes. Crédito: Euclid Collaboration 2025As análises foram feitas usando dados do telescópio Euclid que analisou mais de 2 milhões de galáxias e suas componentes. Crédito: Euclid Collaboration 2025

No estudo publicado pelo Euclid, eles encontraram que o Universo está ficando gradualmente mais frio e que a época de auge da formação já passou. Há cerca de 10 bilhões de anos, a temperatura média dos grãos de poeira nas galáxias analisadas era aproximadamente 10 °C mais alta. Essa queda na temperatura indica uma diminuição na formação de estrelas e menos radiação aquecendo a poeira. Isso mostra que o Universo está entrando numa fase menos produtiva em termos de atividade galáctica.

O futuro é gelado

A conclusão do estudo é que o futuro do Universo parece cada vez mais frio e apagado sem muitas estrelas para brilhar no céu. A colaboração Euclid encontrou esses resultados após analisar um conjunto de dados ópticos do telescópio Euclid combinados com observações em infravermelho do satélite Herschel. Juntas, essas medições formam a maior amostra de galáxias já estudada com cerca de 2,6 milhões de galáxias.

Os resultados de trabalhos anteriores a esses tinham amostras muito menores e com ausência de algumas populações de galáxias como as outliers. Essas outliers seriam galáxias que são muito mais quentes ou muito mais frias do que a média que observamos no Universo. Apesar dos resultados já esperados, a novidade do trabalho é que o processo parece ter começado mais cedo do que se achava antes.

Referência da notícia

Euclid Collaboration 2025 The average far-infrared properties of Euclid-selected star-forming galaxies Astronomy & Astrophysics