“Taxman” nasceu do susto de George Harrison ao encarar a mordida do Fisco britânico. Ele mesmo resumiu quando teve o estalo: “‘Taxman’ foi quando percebi que, embora tivéssemos começado a ganhar dinheiro, na verdade estávamos entregando a maior parte em impostos.” A letra cita autoridades locais da época pelo nome e dá à faixa um tom ácido pouco comum no repertório do grupo até ali.
Musicalmente, o caminho é curto e agressivo: baixo e guitarra martelando o mesmo desenho, voz “na cara” e clima de R&B espartano, uma base que, anos depois, seria lida por parte da crítica como precursora do punk. Não por acaso, o The Jam levantou desse esqueleto para construir “Start!”, de 1980, aproximando de vez o riff de Harrison do universo mod/punk.
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Foto: Facebook Oficial – Beatles For Sale
O solo que acende a música não é de George, e sim de Paul. O próprio Harrison explicou a divisão de tarefas: “Eu ajudei bastante em todos os arranjos. Houve muitas faixas, porém, em que eu toquei baixo. Paul tocou guitarra solo em ‘Taxman’, e ele tocou guitarra – uma boa parte – em ‘Drive My Car’.” No estúdio, McCartney entrou para “sujar” o timbre: disse que queria algo louco e cheio de feedback, com microfonia e um toque de caos, numa atitude que ele mesmo compara ao espírito do Hendrix do comecinho.
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Há ainda outras peças que completam o quadro: a batida direta, a secura do arranjo e um DNA pop britânico que flerta com a psicodelia sem perder a pegada imediata. A inspiração inicial de Harrison no tema de Batman ajuda a entender o desenho simples e chamativo do riff. E a engenharia no Abbey Road tratou de reaproveitar o solo: a repetição no final é o mesmo take copiado para a fita do fade.
Com “Taxman” abrindo o “Revolver”, Harrison ganhou posição de destaque no disco e deixou claro que podia assinar músicas à altura da dupla Lennon/McCartney. Ao mesmo tempo, a faixa juntou protesto com atitude crua, criando uma ponte que muita gente enxerga como proto-punk – menos por rotulagem e mais pela soma de elementos: sarcasmo anti autoridade, riff minimalista, vocal cortante e impacto posterior sobre bandas que fariam esse espírito explodir nos fins dos anos 1970.
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Quase sessenta anos depois, “Taxman” segue cumprindo dois papéis ao mesmo tempo: documento de um país que tributava no limite e sinal verde para uma estética enxuta e ferina que encontraria solo fértil na geração seguinte: do jam mod ao estouro punk.
Com informações da Wikipedia e Songfacts.
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