É neste momento essencial do tráfico de droga que surgem outras três pessoas, com uma posição hierárquica na rede inferior aos informáticos, mas com relevância para o sucesso da operação. Não tinham relação familiar entre eles e, por enquanto, a PSP ainda não sabe como todos os intervenientes no grupo se conheceram — são quase todos cidadãos portugueses. “Os contactos eram feitos através dessas aplicações na internet e depois havia uma rede de distribuidores camuflados por Ubers que faziam as entregas das encomendas”.
Estes traficantes andavam por Lisboa de bicicleta, mota, carro ou a pé. Com eles, era imprescindível a mochila verde da Uber Eats, com a qual podiam distribuir produtos sem levantar suspeitas. A vinculação à empresa era apenas fictícia, nenhum dos detidos estava inscrito como trabalhador nas plataformas. “Utilizavam estes disfarces para passar no tecido social. Utilizavam as mochilas para que parecesse uma atividade lícita. (…) Tinham uma vasta capacidade de fazer entregas dentro da cidade”. “É normal à porta de um prédio ou de uma casa, em Lisboa, haver pessoas a entregar encomendas”, concretizou o comissário.
Esta técnica não apanhou a PSP de surpresa. É do conhecimento das autoridades que há várias pessoas a fingir prestar serviço de estafetas para conseguirem colocar droga no mercado. Recentemente, as autoridades detiveram um homem que também levava uma mochila da Uber Eats. “Informou os polícias que estava em deslocação para fazer uma entrega, mas apurou-se que tal não era verdade pois a mochila encontrava-se vazia e o produto que tinha na sua posse era destinado a ser vendido por várias zonas de Lisboa”, referiu a PSP através de um comunicado.
Esse estafeta levava com ele “cinco sacos herméticos de produto suspeito de ser estupefaciente”. Após ser pesado e analisado, confirmou-se, eram 28 doses individuais de cocaína. Apesar das semelhanças com a apreensão que resultou na queda da rede dos informáticos traficantes, a PSP garantiu ao Observador que esta detenção não está relacionada com o grupo. Ainda assim, é sintomático da maior procura por este método. Há pouco tempo, houve também um caso sinalizado por um polícia de folga que “viu um evento, com um motociclista da Uber que chamou à atenção”. “Sabemos que há mais”, confirmou João Prisciliano.