A voz grave, sofrida e inconfundível de Eddie Vedder é praticamente sinônimo de Pearl Jam. Como lembra o jornalista Tim Coffman, desde os primeiros versos de “Once”, no álbum “Ten”, aquela mistura de barítono e urgência se tornou referência para toda uma geração de vocalistas nos anos 1990. Ainda assim, mesmo com tanta identidade vocal, existe um momento raro – quase esquecido – em que o microfone não está nas mãos de Vedder. E, justamente por isso, tornou-se um capítulo curioso na trajetória da banda.
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Foto: Danny Clinch – Universal Music
Coffman recorda que a entrada de Vedder foi vista como um “trunfo secreto” por Stone Gossard, que enviou ao futuro vocalista uma fita com ideias musicais por intermédio do baterista Jack Irons. A química foi imediata, mas, com o crescimento do grupo, as tensões internas também aumentaram. No documentário Pearl Jam Twenty, Gossard admitiu se sentir deslocado quando o vocalista assumiu as rédeas criativas: “Foi estranho ver minha visão da banda sendo tomada imediatamente pelo Ed”, recordou.
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Esse embate ficou mais evidente a partir de “Vitalogy’, quando Vedder puxou a banda para territórios menos convencionais. Já em “No Code” (1996), a situação se agravou a ponto de Jeff Ament cogitar sair após perceber que algumas gravações haviam começado sem sua presença. Mesmo assim, Coffman destaca que o álbum conseguiu empurrar o Pearl Jam para novas fronteiras, misturando experimentação e rock direto, do tribalismo de “Who You Are” ao lirismo melancólico de “Off He Goes”.
Pearl Jam sem Eddie Vedder?
Foi nesse clima atribulado que surgiu um momento único na discografia: a entrega dos vocais a Stone Gossard. A música em questão é “Mankind”, um rock simples, energético e despretensioso que, segundo Coffman, soa como algo entre “o lado mais áspero do R.E.M. e o espírito bagunçado do The Replacements”. A faixa destoa positivamente do restante do álbum, exibindo uma faceta mais leve em meio à turbulência criativa da época.
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Gossard, que já vinha se expressando no projeto paralelo Brad, encontrou em “Mankind” um espaço natural para seu estilo. Seus vocais, como descreve Coffman, carregam uma energia punk nervosa, “algo entre o Iggy Pop contido e o David Byrne elétrico”. A faixa evidencia o quanto o guitarrista sempre teve um universo musical próprio, que raramente aparece de forma tão explícita dentro do Pearl Jam.
Apesar da boa recepção dos fãs mais atentos, “Mankind” continuou sendo um experimento isolado. Gossard nunca mais assumiu os vocais principais em estúdio, limitando-se a backing vocals ocasionais em faixas como “Better Man” durante apresentações ao vivo. Com tantos projetos paralelos ao longo dos anos, ele encontrou outras maneiras de se expressar – e, dentro do Pearl Jam, parece confortável em deixar sua guitarra falar por ele, como nas explosões sonoras de “Even Flow” e na sutileza rítmica de “Daughter”.
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