WTF with Marc Maron, o podcast iniciado em 2009, vai chegar ao fim algures no Outono, após mais de 1500 episódios. Para trás ficarão mais de 15 anos em que acompanhámos, ao ritmo de dois episódios por semana, a transformação de Marc Maron. Ao início, era um cómico de stand-up bastante ressentido com os seus falhanços e a sua falta de aceitação. Guardava rancores com décadas, sendo frequente vê-lo a perguntar aos seus convidados se estava tudo bem entre eles e não estavam chateados. Foi evoluindo através deste novo meio de comunicação, do qual é um pioneiro, entre os monólogos introdutórios de cada episódio e as entrevistas, primeiro a cómicos e depois a outras personalidades da cultura norte-americana, propositadamente pouco preparadas. Tornou-se um nome conhecido. E não necessariamente pela comédia feita nos palcos a que dedicou a vida toda.

Agora, aos 61 anos, e prestes a prescindir de WTF, o comediante não vai a lado nenhum. Apesar de, como diz no seu novo especial, já ter tido várias oportunidades para isso (morrer). Lançado no fim-de-semana passado na HBO Max, Panicked, o seu segundo especial para a HBO, continua na senda dos dois anteriores, End Times Fun, da Netflix, que saiu logo no início da pandemia e, por coincidência, o mostrava a pensar no apocalipse, e From Bleak to Dark, já na HBO, que lidava com a morte da sua parceira, a realizadora Lynn Shelton, e o envelhecimento. Aqui, Maron continua preocupado com o fim dele próprio, do mundo, da América.

Não há nada que Maron possa fazer agora que chegue aos calcanhares da importância que o seu podcast ainda tem. Até Maron, a sua sitcom da IFC que durou de 2013 a 2016, encomendada a reboque da popularidade de WTF, é pouquíssimo recordada. A evolução de Marc Maron como pessoa que já não passa o tempo todo a remoer irritações antigas foi-se estendendo também à sua comédia. E à aceitação de que nunca será o cómico mais popular do mundo, com perfeita noção do nicho que ocupa, que ainda assim é bastante vasto. Continua a ser o tipo ansioso que sempre foi, mas parece mais confortável, ou pelo menos mais experiente, a lidar com isso. Ou então é um mundo mais ansioso que o está a receber. Como diz Kathryn VanArendonk, crítica do Vulture, o site de cultura pop da revista New York, é “o tipo certo para este preciso momento”, adentro do “pesadelo que é o agora”: “Esteve anos a treinar para isto.”

Ao longo do pouco mais de meia hora do especial gravado em Brooklyn, Marc Maron discorre, não necessariamente por esta ordem, sobre a ascensão do fascismo nos Estados Unidos, a pouca coesão daquilo a que talvez não se possa sequer chamar esquerda no seu país, o facto de os novos nazis não se vestirem tão bem quanto os antigos, os fogos na Califórnia, os seus gatos, a sua própria culpa liberal, a demência do pai, as infestações de ratos em casa, a sua idade, os traumas de infância, entre outros temas, como finalmente aprender a perceber por que é que a música de Taylor Swift é tão apelativa para as pessoas.

Pelo meio, atira contra aqueles que se queixavam da falta de liberdade de expressão, nomeadamente contra outros comediantes que permitiram, através desse pânico moral, um governo que prende e deporta pessoas e restringe gravemente essa mesma liberdade. Ele que todas as semanas, ao longo de todos estes anos, tem provado que o queixume do “já não se pode dizer nada”, no que toca a comédia, é absurdo. Imagina como seria ver Theo Von, um desses cómicos, também podcaster, a quem aliados de Donald Trump dirigiram agradecimentos na noite em que este ganhou as eleições presidenciais do ano passado, a entrevistar Adolf Hitler. E, também, no pouco impacto que fazer piadas em momentos destes pode ter. Vamos perder WTF, mas continuaremos a ter Marc Maron.