O candidato presidencial apoiado pelo PCP define limites nesta entrevista. Se fosse presidente, enviava normas do novo Código do Trabalho para o Constitucional, receberia Zelensky em Belém, aprovaria um diploma para fazer os partidos políticos pagarem IMI, não marcaria presença nas cerimónias do 25 de Novembro

O candidato presidencial António Filipe defendeu que a sua candidatura “não é substituível” no espaço da esquerda e, apesar do apoio do PCP, acredita que poderá ter uma votação “que extravase as fronteiras partidárias”.

“Sou do PCP, não escondo e não vou entregar o cartão”, afirmou este domingo na entrevista na rubrica “Verdade e Consequência” da CNN Portugal, numa referência a adversários como Luís Marques Mendes.

Questionado sobre como os seus ideais comunistas poderiam condicionar o cargo de Presidente da República, António Filipe respondeu assim: “O facto de um Presidente ser comunista não quer dizer que implanta o comunismo por decreto no dia a seguir. No dia a seguir à minha tomada de posse o país não acorda comunista”.

Embora sem quer “copiar para Portugal nenhum modelo existente” noutros países comunistas, o candidato presidencial destacou o modelo económico chinês, com “progresso social” ao retirar “centenas de milhões de pessoas da pobreza”.

Greve geral nas mãos dos trabalhadores, Código do Trabalho nas do Constitucional

Com o país à beira de uma greve geral a 11 de dezembro – e a possibilidade de dois dias de paralisação levantada pela UGT -, António Filipe atirou a decisão final para os trabalhadores. Ainda assim, não hesitou em classificar as propostas de alteração ao Código do Trabalho como um “grave retrocesso civilizacional”.

Ainda assim, se o diploma lhe chegasse a Belém enquanto Presidente, a garantia deixada é de que atiraria várias normas para o Tribunal Constitucional. António Filipe lembrou que esta pacote foi uma “surpresa” para os eleitores, uma vez que não fazia parte das medidas eleitorais de Luís Montenegro.

Aprovar eutanásia e IMI, aceitar demissão de Montenegro

Numa fase final da entrevista, António Filipe deixou claro o que faria se fosse Chefe de Estado. Não vetaria o diploma da eutanásia nem uma proposta para que os partidos políticos pagassem IMI sobre o seu património imobiliário. Neste último assunto, que é caro ao PCP, lembrou que só as sedes pagam este imposto. “Se tiverem outro, pagam”, afirmou.

Perante um cenário de o PS ser o partido mais votado, mas surgir uma geringonça de direita, António Filipe garantiu que “falaria com o líder do PS, para perguntar que condições é que tinha para obter um apoio parlamentar na Assembleia da República”. “Se não tivesse condições para obter, teria que encontrar outras soluções”, disse.

Já se Montenegro fosse constituído arguido na investigação ao caso Spinumviva, com a demissão a pedir a demissão do Governo, António Filipe prometeu que “reagiria em função” de uma moção de censura ou de confiança. “Se ele se demitisse, aceitaria a demissão. A dissolução do Parlamento teria de ser ponderada”, explicou.

25 de Novembro: não iria se fosse convidado

António Filipe deixou outra garantia neste “Verdade ou Consequência”: se fosse Presidente da República recusaria o convite para a cerimónia do 25 de Novembro.

“É uma rescrita da história, de procurar contrapor o 25 de Novembro ao 25 de Abril, diminuindo o 25 de Abril”, justificou.

Zelensky em Belém? “Sentido de Estado” acima de tudo

E se fosse Presidente da República, receberia Volodymyr Zelensky em Belém? Apesar de ser uma das figuras que tem merecido a crítica do PCP, António Filipe recebê-lo-ia em Belém.

“É um estado com que Portugal tem relações diplomáticas. Provavelmente, na conversa que tivéssemos, dar-lhe-ia opiniões que ele não gostaria de ouvir. E eu provavelmente não gostaria de ouvir algumas coisas que ele me dissesse”, explicou.

Para concluir que o “sentido de Estado” deve estar acima de tudo: “não devemos condicionar a política externa de um país aos nossos amigos políticos”

Em matéria de política externa, insistiu que Portugal não deve abandonar organizações como a NATO nem ONU. “Portugal em todas as organizações internacionais a que pertence deve ter uma voz própria”, contrapôs.