As previsões da Reuters, sustentadas por uma sondagem a 38 economistas, apontam para um preço do petróleo relativamente contido nos próximos meses, graças a uma combinação de oferta abundante e procura moderada. Ainda assim, Portugal, já este mês, voltou a assistir a um aumento dos preços dos combustíveis, numa tendência que aparenta contradizer o cenário internacional. A questão, no entanto, não está no petróleo. Está no dólar americano.

A valorização recente da moeda norte-americana, que se aproxima de máximos de três meses, tem funcionado como o verdadeiro motor da subida do preço do combustível em Portugal. E esta valorização não é fruto do acaso. Resulta da estratégia de desorientação política e económica de Donald Trump, que reacende tensões comerciais, desafia aliados, inverte posições previamente assumidas e alimenta incerteza global. Numa conjuntura assim, os investidores procuram ativos considerados seguros. E o dólar é, historicamente, o maior porto seguro do sistema financeiro internacional.

Para países da Zona Euro, o impacto é direto. O petróleo é cotado em dólares. Mesmo que o barril não suba um cêntimo nos mercados internacionais, um dólar mais forte faz com que cada barril custe mais em euros. O exemplo é simples: um barril de Brent a 80 dólares vale 72,7 euros com o câmbio a 1,10; mas se o euro desvalorizar para 1,05, esse mesmo barril passa a custar 76,2 euros. Uma subida de quase 5%, que nada tem que ver com a evolução do crude. Este diferencial propaga-se depois pelos custos de refinação, transporte e, inevitavelmente, pelo preço final em bomba.

Ao contrário do que muitos imaginam, os movimentos cambiais tornaram-se hoje um fator mais determinante para o preço dos combustíveis do que a própria OPEP. E, neste momento, tudo indica que o dólar continuará forte. São vários os fatores que alimentam um fluxo contínuo de capital para ativos americanos: tensões com a China, ameaças tarifárias, dúvidas sobre políticas monetárias fora dos EUA, sinais de fraqueza em outras economias e a perceção global de instabilidade.

Perante isto, é provável que os preços dos combustíveis em Portugal continuem a subir, apesar das previsões internacionais favoráveis em relação ao petróleo. Acresce ainda a possibilidade de o Governo pôr fim aos apoios fiscais aplicados desde 2022, que têm amortecido o impacto das flutuações internacionais. Se estes apoios forem retirados num momento em que o dólar se fortalece, o choque para famílias e empresas será significativo.

Num país energeticamente dependente, ignorar a combinação explosiva entre volatilidade geopolítica, dólar forte e pressão fiscal seria um erro estratégico. O Governo deve ponderar manter, ou ajustar, os atuais mecanismos de mitigação dos custos dos combustíveis. Independentemente das previsões para os preços do petróleo, os apoios vão continuar a ser necessários. Enquanto persistir a estratégia de desorientação promovida por Trump, o preço dos combustíveis será ditado menos pelo petróleo e cada vez mais pela força do dólar.

Professor associado e coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia