O insólito nasceu da vontade de Mick Meaney de superar o recorde mundial de permanência, em vida, num caixão, detido, até à data, pelo texano Bill White, conhecido como “cadáver ambulante”.

Motivado por dificuldades financeiras e após ver o sonho de ser campeão de boxe destruído na sequência de um acidente, o operário, de 33 anos, acreditava que, se alcançasse o feito histórico, o seu futuro mudaria.

Assim, a 21 de fevereiro de 1968, foi enterrado, na vala de um estaleiro, num caixão com 1.90 metros de comprimento e 76 centímetros de largura, forrado com espuma e equipado com um tubo para a entrada de ar e alimentos, seguido em procissão por curiosos e pelos média.

O caixão tinha uma linha telefónica para garantir o contacto com o exterior, bem como um alçapão que servia de casa de banho. A rotina de Mick Meaney consistia em acordar às 7 horas, fazer exercício, ler e conversar através do telefone.

Um recorde esquecido

Após 61 dias, a 22 de abril, Meaney bateu o recorde e foi retirado do caixão. No entanto, como o feito coincidiu com alguns dos grandes acontecimentos do século, como a Guerra do Vietname e o assassinato de Martin Luther King Jr, a atenção dos meios de comunicação social já havia diminuído. Embora tenha sido aplaudido, a fortuna prometida nunca chegou.

Os patrocínios promissores, como um acordo com a Gillette, desapareceram e a digressão mundial que lhe foi prometida não se concretizou. Além disso, o organizador do desafio, Michael “Butty” Sugrue, ficou com os lucros e nenhum representante do livro dos recordes do Guinness registou o feito.

Mick Meaney voltou para casa de mãos vazias, “sem dinheiro para um pacote de leite”, ficando apenas com um recorde não oficializado e quebrado, nesse mesmo ano, por uma ex-freira, enterrada durante 101 dias em Skegness.

Testemunhos da filha

A proeza e o que se seguiu vão ser agora contados num documentário do realizador Daire Collins, que será exibido no canal de televisão irlandês TG4 a 26 de novembro, reunindo imagens de arquivo e entrevistas a familiares e amigos de Meaney.

“O meu pai era um orgulhoso homem de Tipperary. Um dos muitos irlandeses, chamados irlandeses esquecidos, que lá trabalhavam de pá e picareta para enviar dinheiro às suas famílias. Eram tempos difíceis”, recorda Mary, filha de Meaney, no documentário.