O deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) posou para uma foto com o último livro do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, considerado um dos principais líderes do Comando Vermelho (CV). O evento ocorreu nas proximidades da 23ª Feira Literária de Paraty, a Flip.

A obra, intitulada A Cor da Lei, é a quarta escrita pelo traficante, que está preso desde agosto de 1996. Atualmente, VP nega que continue na liderança da facção. Mesmo assim, seu último livro foi lançado no dia 12 de julho no Complexo do Alemão, no Rio, uma área historicamente dominada pelo CV.

A foto do vereador com o livro de VP não foi postada por ele, e sim por um perfil de Marcinho VP no Instagram – a conta é administrada por terceiros e tem 137 mil seguidores.

A foto é na Praça Monsenhor Hélio Pires, mais conhecida como Praça da Matriz. No começo da tarde de ontem, o ex-desembargador Siro Darlan promoveu uma “roda de conversa” para falar do livro nas proximidades desse local.

O evento foi promovido pela Kotter Editorial, que lançou o livro, e pela Academia Brasileira de Letras do Cárcere, ABL Cárcere, na qual VP ocupa a cadeira nº 1.

O livro mais recente de Marcinho VP é um romance. A obra acompanha o drama de um personagem chamado Eduardo, que busca se reinserir na sociedade apesar do estigma que pesa sobre sua família. O Metrópoles teve acesso a alguns trechos da obra.

A obra ficcional é o quarto livro escrito pelo traficante – seja sozinho ou em coautoria com outros. Antes, ele lançou Marcinho VP: Verdades e Posições – O Direito Penal do Inimigo (2017), Preso de Guerra (2022) e Execução Penal Banal Comentada (2023). Este último é uma obra jurídica, escrita em parceria com advogados que o defendem na Justiça.

Renato Freitas: não conheço Marcinho VP

À coluna, Renato Freitas parabenizou Marcinho VP pelo livro, mas disse que não conhece o traficante e que não foi ao evento organizado pela ABL Cárcere. Segundo ele, tudo o que houve foi uma foto com o livro.

“Se eu tirei foto com o livro do Marcinho VP, parabéns pra ele que escreveu um livro! Não discriminamos e nem fazemos acepção de pessoas. Pelo contrário, a gente acha que o mundo da literatura, que venha de onde vier as obras, é um mundo que abre portas e que favorece o processo de ressocialização”, disse ele.

“E não é só a gente que entende assim. O sistema judiciário hoje dá remissão de pena por leitura. Cada livro lido equivale a dias de pena remido”, disse.

“O que preocupa é a ausência de notícia do sucesso da Flip Preta ou sobre seu acontecimento, e aquilombamento, a ancestralidade, a minha participação na Flip Preta e pinçarem diante de tantos acontecimentos uma foto injustificada tão somente para obter uma ligação minha com o Comando Vermelho, manchar minha imagem e vincular ela à criminalidade, por eu ser uma pessoa preta e pobre, em uma discriminação evidente”, alegou ele.

Leia abaixo a nota enviada pelo deputado:

“Renato Freitas participou da mesa de abertura da Flip Preta. Quando em único momento foi à Flip Oficial, conhecer o Centro Histórico de Paraty e a feira, tirou fotos com centenas de pessoas que admiram sua atuação política.

Cada pessoa trazia seu livro, de sua editora, de seu familiar ou autor preferido. Uma dessas fotos foi com Renato segurando o livro de Marcinho VP.

A foto foi tirada por uma pessoa que disse admirar o trabalho de Renato na luta pela dignidade e direitos humanos. Essa foto poderia ter sido publicada em qualquer lugar.

Usar isso para tentar associar o nome de Renato ao crime organizado só serve a outro submundo do crime, o do fascismo e das fake news.

Ligar o nome de Renato ao Comando Vermelho, além de expor preconceito contra o único parlamentar paranaense pobre, preto e periférico, atenta contra a segurança do deputado estadual que transita, em sua atividade parlamentar, em diversas favelas comandadas por variadas facções criminosas e absolutamente carentes da presença do Estado.

Em resumo, Renato não tem ligação com o Comando Vermelho, não conhece Marcinho VP e ainda não leu o livro dele.“