O Reino Unido ofereceu apenas uma fração dos 6,7 mil milhões de euros exigidos por Bruxelas para aderir ao programa de Defesa da UE, orçado em 140 mil milhões de euros, sugerindo uma contribuição de apenas 75 milhões de euros, revelou esta quarta-feira o ‘Financial Times’.

Espera-se que os Estados-membros da UE rejeitem a oferta do Reino Unido, o que levanta dúvidas sobre a possibilidade de ser fechado um acordo até à data limite, marcada para o próximo dia 30.

O programa Ação de Segurança para a Europa (SAFE) permite aos países europeus adquirirem, em conjunto, novas armas através de empréstimos com garantia do orçamento da UE.

De acordo com as regras atuais, os países da UE podem gastar até 35% do fundo de Defesa com empresas do setor do Reino Unido. Se o Reino Unido aderir ao SAFE, esta percentagem poderá subir para até 50%, mas Bruxelas afirmou que a contribuição do Reino Unido para o fundo precisa de refletir os benefícios para a indústria britânica.

O primeiro-ministro britânico, sir Keir Starmer, reuniu-se com o chanceler alemão, Friedrich Merz, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Berlim, na noite desta terça-feira, onde foi discutida a questão da segurança europeia, segundo informou Downing Street.

França liderou um grupo de Estados-membros da UE ao exigir um preço de entrada elevado para o Reino Unido, defendendo que o programa deveria favorecer a indústria de defesa europeia.

O secretário da Defesa do Reino Unido, John Healey, disse que o Reino Unido queria um acordo, mas não a qualquer preço. “Negociámos seriamente durante todo este período a nossa participação no programa SAFE. Mas sempre deixámos claro que, embora estivéssemos dispostos a pagar uma parte justa dos custos deste programa, qualquer acordo tinha de ser vantajoso para os contribuintes britânicos, tinha de ser vantajoso para a indústria de defesa britânica, e espero que a Comissão [Europeia] chegue ao ponto em que possamos participar.”

Apesar de Bruxelas ter estabelecido o prazo de 30 de novembro, as autoridades da UE afirmaram que os contratos com a indústria só serão assinados em março do próximo ano, o que permite alguma flexibilidade para o Reino Unido aderir mais tarde. O Canadá está também em negociações para participar no programa SAFE.

A oferta do Reino Unido de 75 milhões de euros baseia-se no custo do reembolso dos juros dos empréstimos da UE e reflete a opinião de Starmer de que a Grã-Bretanha deve contribuir apenas com uma parte dos custos administrativos de criação do fundo e dos custos associados à garantia dos empréstimos SAFE. “É importante reiterar que o Reino Unido não poderá utilizar o empréstimo, e isso deve ser refletido na contribuição financeira que iremos fazer”, indicou uma autoridade britânica.

“O programa SAFE concede empréstimos aos Estados-Membros para complementar os seus orçamentos nacionais de compras. Os Estados-Membros adquirem, então, equipamento a fornecedores, como os sediados no Reino Unido, a preços de mercado. Não é razoável que o Reino Unido pague custos adicionais à UE apenas pelo privilégio de a nossa indústria fornecer equipamentos aos clientes da UE a preços de mercado”, reforçou o responsável.

Um porta-voz da Comissão Europeia salientou que a UE “continua aberta a negociar com o Reino Unido, mas a contribuição tem de ser proporcional aos benefícios que o Reino Unido obtém com a sua participação”.

“Isto incluiria a dimensão dos contratos que os Estados-Membros irão celebrar — e a rapidez com que estes devem ser cumpridos até 2030, reforçando as cadeias de abastecimento, ao mesmo tempo que proporciona ao Reino Unido benefícios económicos claros através de impostos, emprego e uma melhor balança comercial”, concluiu.