A Turquia tem sido o único país a conseguir manter escassas e delicadas vias de contacto entre a Ucrânia e a Rússia. O seu presidente está convencido da necessidade de alargar aquilo a que chama o ‘processo de Istambul’.

Turkey’s President Tayyip Erdogan meets with Ukrainian President Volodymyr Zelensky in Istanbul, Turkey March 8, 2024. Turkish Presidential Press Office/Handout via REUTERS

O presidente da Turquia, Recep Erdogan e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, manifestaram apoio ao regresso àquilo a que o regime de Ancara apelida ‘processo de paz de Istambul’, ao mesmo tempo que convergiram na necessidade de uma solução justa e duradoura para um cessar-fogo que acabe com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Os dois presidentes encontraram-se esta quarta-feira em Ancara – no final de uma viagem, de Zelensky pela Europa, que o levou a Atenas, Paris e Berlim.

No final do encontro, e segundo a imprensa turca, Erdogan afirmou que Ancara acredita que seria um benefício para todos os envolvidos implementar o processo de Istambul dentro de uma estrutura abrangente capaz de abordar os desafios do conflito. E reiterou a disposição da Turquia em discutir com a Rússia quaisquer propostas que possam acelerar um cessar-fogo e abrir caminho a “uma paz justa e duradoura”.

Zelensky, que agradeceu à Turquia pelo que chamou de postura de princípios em relação à guerra da Rússia, disse que o apoio de Ancara à independência e soberania da Ucrânia é “muito importante” para Kiev. Tivemos uma reunião muito produtiva e abrangente com o presidente Erdogan. Valorizamos a confiança mútua. O reconhecimento da Turquia em relação à Ucrânia é muito importante para nós”, disse. Zelensky afirmou que os dois líderes discutiram a cooperação na indústria da defesa e que as equipes de ambos os lados concordaram em fortalecer os projetos de produção conjunta, acrescentando que os esforços diplomáticos foram intensificados.

Erdogan lembrou que a Turquia sediou várias rondas de negociações entre delegações russas e ucranianas, incluindo três que alcançaram progressos em questões humanitárias e permitiram a discussão direta de mecanismos de cessar-fogo e paz. E também mediaram os acordos em torno da exportação dos cereais ucranianos (e a sua passagem segura no Mar Negro) e desbloquearam esse processo quando a Rússia deu mostras de querer voltar atrás.

“Salientamos a necessidade de dar continuidade ao processo de Istambul com uma abordagem pragmática e orientada para resultados”, disse Erdogan. “Num momento em que os efeitos destrutivos da guerra se intensificam para ambos os lados, acreditamos que as negociações de Istambul representam uma etapa importante nos esforços diplomáticos”.

As delegações russa e ucraniana reuniram pela última vez em Istambul em julho passado, num encontro que resultou na troca de centenas de prisioneiros. Nesse contexto, a Turquia está entre os candidatos ideais para mediar o conflito, pois mantém boas relações com ambos os lados, sendo de recordar que Istambul foi palco das negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia nas primeiras semanas do conflito, há três anos, e que não tiveram continuidade.

O enviado especial norte-americano Steve Witkoff tinha previsto estar na Turquia para assistir ao encontro entre os dois presidentes, mas acabou por desviar o seu destino para a Rússia – o que os comentadores consideram ser um indício positivo.