Quem sofreu o primeiro Wicked, de Jon M. Chu, baseado no musical da Broadway que por sua vez adapta o livro de Gregory Maguire, Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West (1995), uma versão revisionista e iconoclasta de O Feiticeiro de Oz, contada do ponto de vista de Elphaba, a Bruxa Má do Oeste (interpretada pela atriz negra Cynthia Erivo), que aqui é boazinha, vítima da intolerância, dos preconceitos e da incompreensão dos que a rodeiam, já sabe com o que pode contar na parte 2, Wicked: Pelo Bem, que conclui a história. A continuação da cerrada desconstrução da Terra de Oz tal como L. Frank Baum a criou nos seus livros e Victor Fleming a filmou em O Feiticeiro de Oz, adaptada com todo o desvelo à ideologia woke.
[Veja o “trailer” de “Wicked: Pelo Bem”:]
Agora refugiada na floresta, Elphaba continua a combater pela liberdade dos animais de Oz que estão a ser silenciados, enquanto procura revelar à população a verdade sobre o oportunista e ditatorial Feiticeiro (Jeff Goldblum, completamente desperdiçado), secundado pela sua alma danada, Madame Morrible (Michelle Yeo). Esta procura controlar Glinda (Ariana Grande), agora a bruxa boa protetora de Oz, que vive luxuosamente no Castelo de Esmeralda e vai casar-se com o Príncipe Fiyero (o canastríssimo Jonathan Bailey). Mas não só Glinda continua a estimar a sua amizade dos tempos da universidade com Elphaba e quer ser mediadora entre ela e o Feiticeiro, como Fiyero se mostra relutante em casar.
O enredo de Wicked: Pelo Bem é dinamizado pela chegada de Dorothy, cuja casa é trazida por um tornado criado, com intenções maléficas, pela magia de Madame Morrible. E vai ser usada para que o filme continue a virar do avesso e a desfigurar as premissas, os valores e a mensagem da história original de O Feiticeiro de Oz. Mostrando que, afinal, Dorothy, o Homem de Lata e o Leão Medroso foram manipulados pelo Feiticeiro para se ver livre de Elphaba; e criando uma (risível) história alternativa para a origem do Homem de Palha, bem como fazendo cair do céu aos trambolhões uma “revelação” final sobre a verdadeira origem familiar da bruxa má que afinal é boazinha, e que é de fazer o espectador mais tolerante deitar as mãos à cabeça. L. Frank Baum deve estar a dar triplos mortais na tumba.
[Veja uma entrevista com o realizador e o elenco:]
Jon M. Chu reitera e acentua, neste segundo filme, além do viés ideológico, os defeitos cinematográficos e os aleijões narrativos do primeiro. Os momentos musicais são desgarrados e desta vez não há mesmo uma só melodia que fique por uns minutos que seja no ouvido. E a realização continua impessoal e dependente de efeitos digitais que, por mais elaborados e dispendiosos, não conseguem criar a necessária atmosfera fantástica e a sensação de maravilhoso, deixando apenas uma forte e permanente impressão de artificialidade. Chu tenta mesmo, na abertura da fita, quando Elphaba ataca a equipa de construção da Estrada de Tijolos Amarelos, fabricar uma “sequência Marvel” e dar estofo de super-heroína à bruxa, o que, felizmente — e pelo menos — não tem continuidade (era só o que nos faltava, uma Bruxa Má do Oeste versão Vingadores).
Tal como — esperemos — não terá mais continuações este deplorável Feiticeiro de Woke, a Terra de Oz forçada e pirosamente multicultural, e as suas bruxas inclusivas. Não vale a pena gastar mais massa com tais pastelões saídos do forno da Hollywood mais aplicada na promoção do wokismo. Valha-nos Santa Judy Garland.