Um dos objetivos com esta visita a Washington era perceber se a ofensiva de charme tinha resultado. Havia bons indícios de que a presidência norte-americana já tinha esquecido a morte de Jamal Khashoggi, ainda para mais com uma presidência que já demonstrou por várias vezes que coloca a realpolitik e a as oportunidades de negócio por cima dos Direitos Humanos.
Numa conferência de imprensa na Sala Oval, um terreno sempre pantanoso para os líderes estrangeiros, isso ficou bem patente. Ao lado do príncipe herdeiro, Donald Trump realçou a aliança entre os dois países e os investimentos que a Arábia Saudita prometia fazer nos Estados Unidos — que podem chegar a 20 biliões de dólares (cerca de 17,3 biliões de euros). O assunto do jornalista morto parecia estar encerrado.
Isto até uma jornalista da ABC News ter feito a questão. O príncipe herdeiro ficou constrangido e percebeu que o assunto até podia ser esquecido para a presidência — mas não para os meios de comunicação social. Donald Trump saiu imediatamente em defesa de Mohammed bin Salman, salientando que a repórter Mary Bruce estava a “embaraçar o seu convidado”: “Fizeste uma pergunta horrível e és uma pessoa horrível”.
Sobre o jornalista saudita assassinado em Istambul em 2020 por ordens (segundo as secretas norte-americanas) de Mohammed bin Salman, o Presidente norte-americano apenas disse que Jamal Khashoggi foi uma pessoa “controversa”. “Muitas pessoas não gostaram desse homem. As coisas acontecem. Ele [Mohammed bin Salman] não sabe nada disso. Tem feito um trabalho excecional.”
Mesmo depois de ter sido apoiado e de Donald Trump ter feito uma reprimenda à jornalista da ABC News, Mohammed bin Salman também se pronunciou sobre o assunto que sempre lhe foi incómodo. Disse que se tratou um evento “doloroso” e que as autoridades sauditas investigaram o sucedido. “Foi um grande erro”, concedeu o príncipe herdeiro. “Melhorámos o nosso sistema para garantirmos que nada como isto acontece outra vez. Estamos a fazer o nosso melhor para que não aconteça outra vez.”
A questão foi incómoda, como se viu pela linguagem corporal e pela cara de Mohammed bin Salman. Mas a pergunta acabou por se converter numa certeza para o príncipe herdeiro: a morte de Jamal Khashoggi são águas passadas para Donald Trump. O assunto deixou de ser um fardo nas relações entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos da América.