O Presidente norte-americano, Donald Trump, acusou nesta quinta-feira um grupo de senadores e congressistas do Partido Democrata de sedição, um crime “punível com a morte”. Em causa está a gravação de um vídeo, posteriormente divulgado nas redes sociais, em que os democratas recordam aos membros das Forças Armadas dos Estados Unidos que não têm qualquer dever de cumprimento de ordens ilegais.

“As nossas leis são claras. Podem recusar ordens ilegais”, declara Mark Kelly, senador do Arizona. Todos os elementos do grupo democrata autor do vídeo serviram nas Forças Armadas ou nos serviços de inteligência dos EUA. A iniciativa foi organizada pela senadora Elissa Slotkin, do Michigan, uma antiga analista da CIA que esteve destacada no Iraque. Participaram ainda os congressistas Chris Deluzio, Jason Crow, Chrissy Houlahan e Maggie Goodlander.

“Comportamento de sedição, punível com a morte!”, escreveu Trump na rede social Truth Social, em reacção à publicação dos democratas. “George Washington tê-los-ia enforcado!!”, acrescentou noutra mensagem.

“Cada um destes traidores do nosso país deviam ser detidos e levados a julgamentos”, escreveu ainda.


O grupo reagiu em comunicado: “O que é mais revelador é que o Presidente considera que é punível com a morte que afirmemos o que diz a lei. Os nossos militares devem poder saber que os apoiamos no cumprimento do seu juramento da Constituição e da obrigação de seguir apenas ordens legais. Não é apenas a coisa certa a fazer, é também o nosso dever.”

Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado, saiu em defesa dos colegas de bancada. “Sejamos muito claros, o Presidente dos Estados Unidos está a apelar à execução de responsáveis eleitos”, denunciou. O Partido Democrata diz estar em contacto com a polícia do Capitólio “para garantir a segurança destes membros e das suas famílias”.

A liderança do Partido Republicano, por seu turno, alinha com Trump. “É muito perigoso termos membros de relevo do Congresso a dizer às tropas para desobedecerem a ordens, acho que não tem precedentes na história norte-americana”, criticou Mike Johnson, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes. Na Casa Branca, a assessora de imprensa da presidência, Karoline Leavitt, negou contudo que Trump estivesse a pedir a execução dos congressistas democratas.


As Forças Armadas norte-americanas encontram-se em território legalmente duvidoso em pelo menos duas frentes neste segundo mandato de Trump na Casa Branca. Internamente, o Presidente republicano chamou à base naval de Quantico, em Setembro, cerca de 800 generais e almirantes para lhes dizer que contava com os militares para “endireitar” as cidades norte-americanas geridas pelo Partido Democrata, sobretudo em matéria de segurança pública. A Constituição dos EUA proíbe o exercício de missões policiais pelas Forças Armadas em território nacional, salvo em circunstâncias excepcionais. Em Junho, 700 elementos do Corpo de Fuzileiros foram destacados para Los Angeles, na Califórnia, para auxiliar soldados da Guarda Nacional a conter protestos contra a ofensiva anti-imigração em curso.

Na frente externa, as forças norte-americanas têm levado a cabo o bombardeamento de navios suspeitos de ligação a grupos de narcotraficantes nas Caraíbas, vitimando dezenas de pessoas, num quadro dúbio de “conflito armado” que não conta até ao momento com qualquer autorização de uso de força militar por parte do Congresso.