“Tentei criar algo inspirado na metamorfose da borboleta, porque Papillon é borboleta em francês”, disse o ‘rapper’ em entrevista à Lusa, sobre a trilogia de álbuns, iniciada em 2018 com “Deepak Looper”, que encerra com “Wonder” e da qual faz também parte “Jony Driver”, editado em 2022.

Esta “ideia conceptual” que foi desenvolvendo representa o seu “crescimento pessoal e artístico ao longo dos tempos”. “É uma proposta criativa e uma ideia que eu queria partilhar com o mundo, acima de tudo”, referiu.

“Wonder”, com 13 faixas, marca o final da trilogia, mas não necessariamente o final da ‘metamorfose’ de Papillon.

“Acho que o terceiro disco é mais um convite, a tentar perceber se já chegámos a essa fase ou se ainda estamos no processo de evolução. A fase da borboleta é a fase final, a meta. Acho que o disco é uma pergunta que faço a mim próprio e a que vou tentando responder ao mesmo tempo”, disse.

Papillon continua numa busca, e “o convite a ouvir o álbum é exatamente isso”: “todos nós fazermos um pouco essa reflexão e percebermos em que fase é que estamos dessa metamorfose”.

“Wonder” é também “não saber o que vem a seguir, mas ter essa curiosidade de explorar, de querer saber o que é que vem a seguir”. “E de fazer isso com um brilho nos olhos e com vontade de fazer mais e melhor”, acrescentou.

Antes de se aventurar a solo, Papillon fez parte do coletivo de rap GROGNation, que anunciou o final em 2022, ao fim de 11 anos de carreira.

“A minha escola é a escola do rap e eu comecei com coisas muito minimalistas, de uma escola de ‘boom bap’, com ‘loops’ simples e batidas simples, e tudo o que eu queria era um espaço para poder meter as minhas rimas, mostrar a minha ‘skill’ de ‘flow’. Foi muito disso a minha escola, os primeiros anos de fazer música”, recordou.

Com o passar dos anos, começou a gostar “das cores, de melodias, de criar canções”.

“Então comecei a ser um pouco mais atrevido, e o meu primeiro disco já foi esse primeiro passo de ser atrevido e audaz na busca por sonoridades diferentes”, partilhou.

Desde a edição de “Deepak Looper”, em 2018, sente que cresceu “muito”. “Conheci amigos na música, na estrada, colegas, malta super talentosa, com quem consegui aprender muita coisa ao longo do tempo. E tentei nas músicas e com os projetos mostrar um pouco daquilo que fui aprendendo, principalmente a nível vocal”, referiu.

Embora seja “acima de tudo ‘rapper'”, Papillon sente que conseguiu “desenvolver bastante a capacidade de criar melodias e de fazer camadas de vozes e trazer harmonias, trabalhar os refrões”.

“Wonder” foi criado “com a intenção de ser melódico”, e grande parte dos temas surgiram de processos “muito minimalistas”: “guitarra, voz e tentar escrever a melhor canção possível com poucas coisas”.

As convidadas – as cantoras Bárbara Tinoco e Carla Prata — entraram já com o disco, produzido com os gémeos GOIAS, Diogo Púrpura, Migs e Ariel, praticamente fechado.

Em 20 de março Papillon atua no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, num “grande espetáculo” pensado para quem o acompanha desde 2018, mas também para “os que chegam agora com este disco”.

“Que celebrem comigo este marco de poder pisar o Coliseu, que será um sonho tornado realidade. Um dia mágico é o que quero que seja, um espetáculo que faça jus ao encanto que é poder fazer música e partilhá-la com as pessoas”, disse.

O concerto ainda está a ser preparado, mas Papillon já sabe que quer “tentar fazer um alinhamento com equilíbrio entre as canções que as pessoas se habituaram a gostar e as do álbum novo”.

“O mesmo esforço e afinco que meto nos meus discos é o que vou tentar fazer no Coliseu em março”, referiu sobre o espetáculo, que terá convidados, mas cujos nomes não revela para já.

Ainda no âmbito da edição de “Wonder”, Papillon disponibilizou na semana passada, na sua conta oficial na plataforma Youtube, a curta-metragem “Sonhos”, na qual são retratadas histórias que foi contando ao longo dos anos através da música.

“É um materializar de coisas que já fui dizendo no primeiro e no segundo disco. Essencialmente é simbólico, de vivências minhas, coisas que passei”, referiu.

Nos 30 minutos de filme estão, por exemplo, retratados “o sonho de querer jogar futebol e ser impedido por lesões, por não ter a documentação legal e não conseguir jogar, apenas treinar”, ou o processo de luto da morte do pai.

“Foi tentar, simbolicamente, contar e fazer um resumo da história que nos trouxe até aqui, até este momento, e ao mesmo tempo brindar a pessoas que me acompanham desde o início, com a [partilha da] novidade que aconteceu na minha vida nos últimos anos e é também uma das razões pela qual não fui tão ativo a fazer músicas”, partilhou.

A ‘novidade’ é o filho, “uma prioridade nova” que também foi “fonte de inspiração” para o novo álbum hoje editado.

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